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Paróquia São Pedro Apóstolo, Moóca - SP |
11. Cresce popularidade do Bar.
O funcionamento
simultâneo do bar junto com o restaurante, além das mesas de jogos, tudo muito
bem organizado e limpo, fez crescer a popularidade do estabelecimento de
Manoel. As fotos tiradas durante a inauguração ficaram boas e teve dificuldade
em escolher algumas para tirar mais cópias. Para isso teve a ajuda de Eduarda e
também de Francisco. Levou as escolhidas com os negativos ao laboratório e em
três dias estavam prontas. Pode escrever no verso de cada uma algumas palavras,
além de uma carta à família. Colocou tudo em um envelope reforçado e foi
colocar no correio.
Devido ao peso o preço
foi um pouco salgado, e ainda o envio registrado contribuiu para isso. Queria
que não ocorresse risco de extravio, pois as fotos eram importantes. Os
documentos para o casamento haviam sido encaminhados estando tudo dentro do
previsto. A data foi escolhida e marcada a hora. Por disponibilidade de
horários escolheram o dia 08 de janeiro. Teriam preferido uma data no começo de
dezembro, mas era muito próximo e não havia como encaixar o dia, nem horário. Era
bom dessa forma. Teriam alguns dias a mais para providenciar tudo com mais
calma. O mês de janeiro, devido ao período de férias, era, segundo falou
Francisco, menos movimentado e poderiam usufruir de alguns dias para viajar em
Lua de Mel. Faltava escolher o local para essa viagem.
Ir para casa de
parentes nem pensar. Era um momento exclusivamente deles. Queriam estar a
vontade para se dedicar sem reservas um ao outro, se descobrir, se saborear e
assim estabelecer um vínculo que esperavam fosse eterno. A época era de muitos
desquites, falava-se em legalização do divórcio, mas nem Eduarda, tampouco
Manoel pensavam nessa hipótese. Os dois não estavam exatamente em idade de
fazer loucuras. Ela tinha completado 28 anos e ele beirava os 50. Estavam
maduros para um relacionamento duradouro. Pretendiam ter filhos, mas com
moderação, pois os tempos não estavam para colocá-los no mundo apenas pelo
prazer de dizer: meu filho. Era necessário cuidar de alimentação, vestuário,
educação e garantir um futuro mais promissor.
Junto com a
popularidade, vieram fregueses de outros bairros, mesmo viajantes que passavam
a passeio ou a trabalho, passavam horas de lazer à noite ali. Assim ficou
sendo um ponto de encontro de pessoas de diferentes procedências e atividades de
trabalho. Uma verdadeira salada de profissões, cores, origens e idades. Havia
quem viajasse pelo nordeste, pelo centro oeste, pelo sul, sudeste e norte. Em
cada lugar que visitavam era possível identificar alguma coisa de típico. As
conversas geraram amizades, trocas de informações e até negócios de certa monta
começaram a ser combinados ali, durante uma partida de sinuca, futebol de
botão, ou diante de um copo de cerveja com salgadinhos.
Depois de percorrer as diferentes regiões, alguns apareceram e deram a Manoel exemplares de
garrafas com cachaças típicas das mais diferentes regiões. Em pouco tempo tinha
uma grande variedade. Inicialmente ele as havia colocado em exposição, mas com
o aumento do seu número, ameaçavam ocupar o espaço necessário para expor as
bebidas que estavam à venda. Como as havia recebido de presente, não tinha
intenção de vende-las. Ficariam ali para formar uma coleção. Um cliente sugeriu
que mandasse fazer um armário estreito, para colocar junto à parede. Ocuparia pouco espaço vital e deixaria as garrafas expostas para todos verem.
O casamento estava
chegando perto e Manoel decidiu deixar essa decisão para depois da volta da lua
de mel. Haviam resolvido passar alguns dias em uma pousada no interior de Minas
Gerais. A primeira escolha tinha sido Salvador, Bahia. Quando participaram do
curso de preparação para o casamento exigido pelo padre da paróquia, a médica
encarregada da palestra sobre cuidados com saúde, fez algumas ponderações. O
fato de iniciarem um relacionamento íntimo, especialmente se a noiva ainda
fosse virgem, tornava a água salgada desaconselhavel. O rompimento do himen, a
fricção dos órgãos genitais durante o ato conjugal, aliados ao sal, poderiam
ocasionar irritações. Algo indesejável no momento que estariam iniciando a vida
a dois. A profissional foi clara e direta sobre esses assuntos, levando uma
porção de casais a mudar seus planos imediatos.
Uma estadia em uma
estância de águas termais, seria bem mais aconchegante e tranquila nesse
momento. Foi por isso que escolheram fazer um tour pelo interior de Minas, sem
se fixar em um único lugar. Manoel estava bem acostumado a dirigir na estrada e
teriam tempo para apreciar cada momento, cada lugar. Seriam os primeiros dias
só deles dois. O resto de suas vidas dependeria em grande parte do sucesso ou
fracasso desse começo. Escolheram um roteiro, percorrendo a capital Belo
Horizonte, Sete Lagoas, Uberlândia, Uberaba e mais alguns lugares. Haveria
sempre a possibilidade de mudar o roteiro se alguma coisa assim exigisse.
Os últimos tempos
haviam sido de reforma geral na moradia do andar superior. Muitas vezes Manoel
tinha que cuidar para não tropeçar nos materiais que ficavam por ali, para
serem usados. A pintura foi toda refeita, assunto em que a future dona da casa
foi chamada a dar sua opinião. Depois de feitas as reformas, trataram de
adquirir o mobiliário básico. Nem tudo iriam comprar no primeiro momento, em
especial os utensílios e mesmo eletro domésticos menores. Os convidados poderiam
escolher para lhes dar de presente e ficariam com duplicidade. Isso significaria
ser obrigado a trocá-los por outras coisas. Poderiam deixar para completar o
que faltasse depois de fazer o balanço final. A paróquia onde o casamento
seria realizado, dispunha de amplo salão de festas que era colocado à
disposição, por uma pequena taxa, especialmente para a limpeza posterior ao
uso.
Isso deixava a
preocupação com o espaço para a festa resolvido. Os convites haviam sido
confeccionados e enviados. Manoel não tinha parentes aqui e convidou os antigos
colegas de trabalho mais próximos, bem como os irmãos. Apenas o mais velho
deles prometeu vir, talvez mais algum membro da família viesse junto. Não tinha
certeza. A mãe gostaria muito de vir, mas sua saúde precária não permitia a
viagem. Torcia para viver até conhecer o primeiro neto desse seu filho que
casava tardiamente. O movimento do bar havia aumentado muito e tinham sido
contratados mais um garçom e uma garçonete, bem como uma ajudante de cozinha. A
casa vivia cheia de fregueses, em quase todas as horas do dia, menos nos
horários de expediente do comércio, quando ocorria um alívio.
Francisco se
encarregaria de controlar as questões financeiras em sua ausência, orientado
pelo contador que se comprometeu a vir inspecionar o andamento das coisas no
período de ausência do dono. Ele lhe dissera que era preciso delegar alguma
coisa. Ninguém consegue cuidar de tudo, sem fazer concessões a alguém. A
tentativa de fazer isso levaria a uma situação de cansaço em tão pouco tempo
que inviabilizaria a continuidade do trabalho.
As festas de final de
ano Natal, Ano Novo passaram voando e o dia tão esperado chegava cada vez mais
perto. Os pais de Eduarda se encarregaram de cuidar dos preparativos,
supervisionando tudo no aspecto de alimentos, bebidas e demais detalhes. O
vestido de Eduarda estava pronto para experimentar às vésperas do Ano Novo e
ela foi fazer a prova para evitar transtornos de última hora. Por sorte a
costureira tinha acertado a mão. Apenas pequenos detalhes para ficar em ótimas
condições. Manoel encomendara um terno no atelier de um alfaiate que conhecia a
muitos anos. Também se encarregou de deixar o noivo em condições de fazer
inveja a muitos endinheirados.
Chegou o dia e às 16 h
os noivos, acompanhados dos pais e padrinhos estavam diante do juiz que
realizou a cerimônia civil rapidamente. Diante da lei dos homens estavam
casados. Faltava agora a benção do sacerdote como representante de Deus para
deixar a união de ambos dentro do que preconiza a sociedade. Embora houvesse
quem dissesse ser desnecessário tanto papel, eles preferiam seguir os ditames
tradicionais. Não custava nada cumprir os ritos e se colocar dentro do que é de
costume.
Depois da cerimônia
civil, seguiram novamente para seu domicílios e se prepararam para a cerimônia
religiosa. Agora a noiva usaria seu vestido branco, a grinalda e o véu, bem
como o bouquet de flores. Quando os relógios marcara 18 h estava Manoel a
postos ao lado do altar, rodeado dos padrinhos e seu irmão com a esposa que
haviam vindo para a festa. Haviam chegado antes do Ano Novo e aproveitaram para
conviver alguns dias, bem como conhecer a nova integrante da família. Logo
depois da partida dos noivos para sua viagem, o casal embarcaria de retorno
para Portugal.
A cerimônia foi
singela, sem muita ostentação. A igreja fora ornamentada com capricho, mas sem
exagero. O fato mais importante iria ocorrer ali diante do altar, não no meio
da igreja, ou ao longo do corredor. Após a cerimônia, foi o momento de
assinatura dos livro de registros de casamento por noivos, padrinhos pais,
irmãos e outras testemunhas, além do padre é claro. A tradicional chuva de
arroz aguardava os noivos ao saírem da porta da igreja, onde embarcaram no
automóvel e deram volta a quadra, entrando pelo lado oposto para chegarem ao
salão de festas. Os convidados haviam passado por uma porta interna para o
espaço de festas. Outros tinham ido diretamente do exterior para ali.

Foram recepcionados com
discursos dos padrinhos, um colega de Manoel disse algumas palavras, elogiando
a atuação do mesmo enquanto haviam trabalhado juntos. Logo veio a comunicação
de o jantar estava servido, esperando os comensais. Como membros da comunidade
portuguesa, não poderiam deixar de predominar pratos à base de bacalhau, além
de outras iguarias. De bebidas havia vinho e também cerveja, além dos
refrigerantes variados. Algumas brincadeiras foram realizadas durante o
transcurso da refeição, homenagens foram rendidas aos noivos, poesias foram
declamadas, um grupo de canto e viola executou alguns números de músicas
típicas, antes de ser cortado e distribuído o bolo de casamento.

Os noivos se
posicionaram adequadamente para que o fotógrafo conseguisse obter uma imagem
nítida e clara do momento. O enorme bolo foi sendo cortado depois por mulheres
presentes, sendo distribuídos pequenos pratos plásticos com garfinhos também
plásticos. A enorme quantidade de talheres que seria necessária, tornava o uso
dos metálicos de uso diário, inviável. Dessa forma, uma vez terminado de
consumir seu pedaço, deixava-se o prato e garfo sobre a mesa, de onde eram
recolhidos e jogados em uma lixeira estrategicamente posicionada. Entre
abraços, desejos de felicidade, boa sorte e outros votos, chegou o momento de
partirem. Tinham reservado um apartamento em um hotel de São Paulo mesmo, do
qual apenas os familiares de Eduarda sabiam o endereço e telefone.

Na manhã seguinte
continuariam a viagem para Minas Gerais onde iniciariam realmente seu passeio e
descanso. Realmente partiram cedo, por volta das 7h 30minutos. A estrada estava
mediamente movimentada, sendo que o sol começava a elevar a temperatura. Algum
tempo depois do almoço alcançaram a divisa entre São Paulo e Minas, de onde
ainda iriam percorrer um trecho até chegarem ao primeiro hotel reservado.
Haviam planejado ficar ali apenas uma noite e talvez parte do dia seguinte,
quando concluiriam o percurso até Belo Horizonte. Assim aconteceu, chegando ao
destino perto do anoitecer do segundo dia de casamento. Os próximos 5 dias
seriam gastos em conhecer todos os pontos pitorescos da capital mineira e seus
arredores.
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Rua de Belo Horizonte. |
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Vista aérea parcial de BH |
Nesse ritmo seguiram
por três semanas, percorrendo uma porção de lugares, cada qual mais
interessante, todos no interior do estado mineiro. Quando finalmente
empreenderam o caminho de retorno, estavam próximos à divisa com o estado de
Goiás. Partiram bem cedo pela manhã, pretendendo alcançar São Paulo, encerrando
a viagem, até o começo da noite, com alguma folga. Se ocorresse algum
imprevisto, poderiam pernoitar no caminho, mas a meta era chegar em casa. Eram
quase oito horas da noite do dia 30 de janeiro quando chegaram ao portão de
entrada para a garage de sua moradia a partir desse momento. O bar ainda estava
em pleno movimento e pouca gente se deu conta de sua chegada.
Francisco e os
auxiliares estavam ocupados demais em atender aos fregueses, para poderem
cuidar do movimento no exterior. Dessa forma, ficaram todos surpresos, quando
por volta de 9h30, Manoel entrou subitamente no recinto, vindo da parte
interna. Em seu encalço vinha Eduarda e os dois foram saudados pela maioria dos
frequentadores já seus conhecidos. Os que eram novos logo souberam de quem se
tratava e se uniram aos vivas dados pelos demais. Os frequentadores que haviam estabelecido uma relação de amizade, vieram de imediato
cumprimentar o casal, indagar da viagem, se tudo correra bem.
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Ouro preto |
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Ouro Preto 2 |
Enquanto Manoel
circulava pelo salão cumprimentando a todos, Eduarda foi até a cozinha. Foi ver Arminda e a nova auxiliar que estavam ali ultimando a limpeza
e deixando algumas coisas preparadas para alguns pedidos tardios que sempre havia. Embora fosse dia de semana, um e outro freguês em geral ficava para
até depois das 22 horas. Arminda a cumprimentou e olhou fixamente seu
rosto sorridente, bem disposto, concluindo que a viagem, como também o início
da vida conjugal havia corrido da melhor forma possível. Viúva que vivera uma
vida profícua com o marido por longos anos, sabia ler no olhar de uma
semelhante os sinais de satisfação com seu estado do momento. Ficou contente,
pois vira mulheres passarem anos sofrendo as consequências de uma lua de mel com
desfecho desagradável.
Nunca conseguiam uma
harmonia total, restando sempre alguma coisa, um ressentimento, um trauma ou
uma ponta de tristeza. Algo que não fora satisfatório era motivo de muita
tristeza depois. Trocaram algumas palavras e as duas estavam se preparando para
voltarem para casa. A hora de encerrar o trabalho já havia passado, mas se
deixassem tarefas inconclusas teriam mais trabalho na manhã seguinte. Assim,
mesmo se chegassem alguns minutos depois da hora, encontrariam tudo em condições
de iniciar logo as atividades do dia, sem sobras do anterior por terminar. Despediu-se
de ambas e foi para junto do marido que estava em meio a um grupo de
frequentadores conversando.
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Uberaba, turismo (Chico Xavier) |
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Vista de Uberaba |
A sua chegada silenciou
a conversação em geral, sinal de que haviam estado a falar de assuntos,
considerados impróprios para serem comentados diante da jovem esposa do amigo. Percebendo
o fato ela falou sem rodeios:
- Por que foi que se
calaram de repente? Pensam que meus ouvidos são muito delicados para o que
estavam falando?
- É que a gente não lhe
conhece direito e não queremos ofender nem melindrar a senhora, - disse um dos
mais falantes.
- Pois podem continuar.
Todos os assuntos que interessam ao meu Manoel, também me interessam.
Entreolharam-se de modo
significativo e Manoel, para descontrair, fez a apresentação da esposa aos
fregueses. Todos indistintamente apertaram sua mão e desejaram muita felicidade
na nova vida que iniciavam.
- Obrigado a vocês. Sei
que em muitos momentos vou estar ali, atrás do balcão atendendo vocês a partir
de hoje. Por isso, façam de conta que sou apenas mais um de vocês e sejam alegres,
brinquem e falem as besteiras que quiserem.
- Cuidado, meu bem! Essa
turma fala cada uma de arrepiar até cabelo de relógio. Imagine você, minhã dama,
minhã rainha. Não é bom dar liberdade demais a eles.
- Para começar eu
consegui ouvir parte de uma frase que fazia alusão a capacidade de meu Manoel
ser capaz de me satisfazer como mulher. Pois saibam que ele é um homem com H maiúsculo.
Acho que se não fossem as pílulas ele teria me deixado grávida umas dez vezes só
nessas três semanas.
Manoel ficou vermelho
igual a um tomate e os amigos caíram em uma gargalhada que se espalhou por todo
salão, chamando a atenção dos demais presentes. Logo outros vieram para perto,
curiosos por saber o que se passava. Depois de se recuperar do rubor, Manoel
falou:
- Minha querida, assim
você tu me deixas encabulado. Vão pensar que eu sou um maníaco insaciável ou
coisa parecida.
- Eu é que não quero
catar sabonete do chão perto dele num banheiro de sauna ou vestiário de clube,
- falou um mais afoito.
- E tu pensas que eu
iria olhar para uma bunda peluda? Tenho coisa melhor e mais bonita para olhar.
As risadas foram gerais
e logo o casal foi chamado para perto de umas mesas no salão de refeições, onde
havia casais terminando de beber umas cervejas e comer salgadinhos. Conversavam
animadamente e fizeram questão que eles sentassem um momento com eles. As esposas
cumprimentaram afetuosamente Eduarda e trocavam com ela olhares maliciosos. Diziam
mais com os olhos do que poderiam exprimir em palavras. A hora já estava
adiantada e pouco depois, começou o êxodo deixando gradativamente o salão
vazio. Francisco e o garçom se encarregaram de baixar as pesadas cortinas de
aço, trancando-as. As portas de vidro foram por sua vez fechadas, mas sem ser
chaveadas. Em caso de arrombamento, iriam oferecer pouquíssima resistência e
apenas provocariam a destruição do vidro, aumentando o prejuízo.
Francisco resumiu os
fatos relevantes ocorridos na ausência do patrão e deixaram para analisar tudo
com mais detalhes no dia seguinte. Era hora de irem dormir, pois se aproximava
das onze horas. Arminda e a ajudante haviam se retirado há mais de uma hora. Provavelmente
já estariam em casa, talvez mesmo dormindo. Manoel propôs levar os dois em casa
ao que eles se opuseram. Certamente ele viera dirigindo por longas horas, pois
havia avisado por telefone sobre a viagem naquele dia. Não moravam muito longe
o os ônibus nesse momento andavam depressa, com pouco movimento de passageiros. Iam de metrô e em pouco tempo estariam em suas casas.
Com a saída de todos,
Manoel e Eduarda se viram sozinhos em sua casa. Subiram para a moradia e se
prepararam para dormir. Os presentes de casamento estavam empilhados em um
canto da sala, esperando serem abertos e grande parte. Isso esperaria pelos dias
seguintes. Não havia pressa para isso. Estavam cansados da viagem e queriam
descansar. Tudo isso sem esquecer antes uma sessão de amor em sua casa. Até
aquele momento haviam se amado em diversas camas, sofás, tapetes de
apartamentos e mesmo sob o chuveiro. Dessa vez iriam estrear a própria cama,
que ainda não fora usada por ninguém.
Um banho reparador
viria a calhar para terem um repouso mais efetivo depois. As roupas ainda
estavam nas malas, mas o que não tinham levado na viagem estava guardado no
guarda roupa. A mãe de Eduarda se encarregara, junto com uma nora de levar para
lá os pertences da filha e arrumar tudo a seu modo. Ao voltar ela daria a
destinação que gostasse a cada peça, mas pelo menos não estava tudo jogado de
qualquer forma pela casa. Ela olhou e encontrou roupas de dormir que costumava
usar antes. Estava ansiosa por vestir suas roupas mais aconchegantes. Na viagem
tudo havia sido novo e nem sempre eram muito confortáveis nas primeiras vezes. Manoel
fez o mesmo em seu lado do guarda roupa e nas gavetas, de onde retirou o pijama
predileto, além de um roupão bem surrado.
Entraram juntos no
chuveiro e enquanto se lavavam faziam carícias mútuas. Ele ensaboou e esfregou
as costas da mulher. Depois foi a vez de receber o mesmo tratamento. Dessa forma
saíram do chuveiro tendo mal se enxugado e caíram sobre a cama abraçados. O estado
de excitação estava elevado e em instantes estavam entrelaçados se amando apaixonadamente.
Manoel não tivera muitas experiências com mulheres enquanto solteiro e Eduarda
casara virgem. Mesmo assim, ele soubera conduzí-la ao prazer sem dificuldades e
ela se entregara sem reservas ao carinho do marido/amante. Não tardara a
aprender retribuir e assim haviam alcançado êxtases intensos, mesmo nos
primeiros dias de sua vida a dois.
Ao atingiram o clímax,
ainda ficaram alguns minutos trocando carícias e sem perceberem, adormeceram. Algum
tempo depois acordaram e apenas puxaram uma colcha para se cobrir pois não
fazia frio, apenas o ar mais fresco da madrugada, habitualmente com um pouco de
garoa de São Paulo. Dormiram até tarde na manhã seguinte. Nem a preocupação de
verificar o andamento de todos os assuntos referentes ao estabelecimento
comercial haviam dado resultado. O cansaço e o desejo satisfeito, fizeram a
ambos dormirem profundamente.
Ao acordarem e olharem
para o relógio de parede, passava das oito horas. No andar de baixo já era audível
o ruido do movimento dos primeiros fregueses. Na cozinha os ruídos de panelas,
utensílios sendo manuseados, lavados ou guardados. Eduarda acordou por último e
viu o olhar do marido dirigido a ela. Tinha um sorriso maroto no olhar e
indagou:
- Já é tarde?
- Que é que tu achas,
meu bem?
- Meu Deus! Eu dormi
igual uma pedra.
- E eu então! Nem vi a
noite passar. Agora já foi e pronto.
Levantaram, fizeram sua
higiene matinal alternadamente. Primeiro
foi Manoel enquanto Eduarda arrumava os lenções e travesseiros na cama. Acordou nua
e nem pensou em se vestir. Apenas colocou um velho peignoir para cobrir o
dorso. Estava só com o marido e, nos poucos dias juntos, tinham passado
muitas horas apenas usando a própria pele. Quando ele estava
terminando de se lavar, ela chegou e o abraçou pelas costas, encostando a pele em seu corpo. Ele estremeceu e falou:
- Deixa de me provocar,
querida. Assim nós vamos voltar para a cama e só saímos daí bem mais tarde.
- Algum problema com
isso, meu amor?
- Problema não, apenas
vamos deixar de cuidar das outras coisas.
- Isso tudo tem tempo.
Eu te amo tanto, meu homem.
Antes mesmo de se
vestirem caíram novamente um nos braços do outro sobre a cama, onde teve lugar
mais um ato de amor intense e prolongado. Ao terminarem foram para baixo do
chuveiro e tomaram banho. Agora era para remover qualquer cheiro remanescente
do suor e emanações dos corpos durante os momentos de sexo intenso. Enxugaram a pele e, enquanto ela se vestia, Manoel desceu para ir ver como estava o movimento. Cumprimentou
os funcionários, indagou se havia alguma providência urgente a tomar. Apenas
alguns item precisariam ser comprados, mas não havia pressa. Estavam acabando. Não convinha esperar que o estoque se esgotasse, para providenciar a reposição. Poderia deixar para depois, sem problema.
Tomou uma xícara de café
com leite, comeu um pão com manteiga e queijo que havia ali. Foi até a porta da
frente olhar o movimento da rua, encontrando o tempo nublado, ameaçando chover.
O ar estava abafado e quente. Não tardaria a cair uma chuva bem forte de verão,
pelo que era possível observar. Logo a esposa, vestindo um conjunto de saia e
blusa leves estava ao seu lado. Ele a abraçou pelos ombros, apontou para o céu
e disse:
- Acho que o céu vai
abençoar nossa volta com uma chuva bem forte.
- Minha mãe sempre diz
que chuva é benção de Deus! As vezes acho que não é bem isso. Especialmente quando
vem com tempestade, granizo, raios e trovões.
- Isso faz parte da
coisa toda.
- Com certeza. Não se
pode fazer nada além de se proteger e cuidar para não sofrer as consequências.
- Tu já tomaste café?
- Tomei um pouco e comi
um pedacinho de pão. Não estou com muita fome.
- Vou precisar providenciar
algumas coisas para a cozinha. Tu vais junto?
- Acho que vou. Dessa forma eu conheço os lugares onde tu fazes as compras. Pode ser que um dia eu precise
tomar conta do estabelecimento e vou saber onde ir.
- Seria uma boa ideia
aprenderes a dirigir o carro. Tirar carta de motorista também.
- Tu deixas eu dirigir
tua jóia?
- Não te esqueças que
ele é tão teu quanto meu agora. Não temos minhas propriedades, tuas
propriedades. Temos nossas propriedades.
- Vou ver uma
auto-escola para aprender e fazer tudo certo. Assim quando sair na rua vou ter
tudo documentado.
- Vamos providenciar
isso nos próximos dias.
Os dois pegaram a lista
de compras, verificaram com Francisco a situação do Bar quanto à bebidas e
demais ingredientes, depois saíram para tratar das compras necessárias. A presença
de Eduarda ao seu lado fez com que demorassem mais, pois ele fazia questão de
lhe mostrar cada detalhe, cada lugar, conversar com os atendentes ou proprietários.
Dessa forma ela seria conhecida e poderia fazer tudo em sua ausência ou
impedimento. Voltaram já era próximo de uma hora da tarde. O almoço já estava
terminando, havendo apenas alguns fregueses retardatários, que habitualmente vinham nessa hora para comer, devido às suas atividades. Outros tinham
trabalhos mais livres e algumas vezes chegavam cedo, outras vinham mais tarde. Isso
era corriqueiro.
Os auxiliares se
encarregaram de descarregar as compras e colocar tudo em seus devidos lugares. Haviam
comprado também mantimentos para uso em sua casa, embora na maior parte suas
refeições viessem a ser feitas ali mesmo no restaurante. Estavam começando
agora a vida de comerciantes. Iriam dividir as tarefas da melhor maneira possível,
procurando evitar sobrecarga tanto para um, como para o outro. Almoçaram e
Eduarda subiu para dar um jeito no monte de presentes. Verificar o que poderia
ser colocado em uso de imediato, o que seria guardado, o que estava duplicado.
Infelizmente havia se recusado a fazer a famosa lista de presentes, para não
constranger ninguém a gastar o que estivesse for a de suas posses. Considerava
presente algo dado de coração e dentro do poder de comprá da pessoa.
Em algumas ocasiões
ouvira pessoas, convidadas para casamentos reclamarem. Tendo sido entre os últimos
a fazer a comprá, lhes restara um utem muito caro e que nem eles mesmos
dispunham em sua casa. Considerava presente algo da escolha de quem oferece e não
uma exigência de quem recebe. Esse procedimento fazia pensar que a festa de
casamento tinha por objetivo equipar a casa do casal, sem ser necessário dispor
de nada dos recursos próprios. Isso talvez funcionasse entre pessoas todas de
mesmo nível econômico, onde essas despesas eram de menor importância. Ao se
convidar pessoas queridas, de condição mais humilde, corria-se o risco de
provocar situações deveras indesejáveis.
Ao final da tarde havia
empilhado uma porção de itens repetidos, junto com os embalagens e
possibilidades de identificação da origem. Talvez seria possível efetuar a
troca por outras coisas de que tivessem necessidade. O que não fosse possível
trocar, guardaria e usaria para presentear pessoas em ocasiões futuras. Para isso
precisaria guardar dentro da embalagem e sem danificar. Havia também louças,
jogos de faqueiros, travessas de porcelana, e diferentes objetos. Muita coisa
era mais ornamental do que útil, mesmo assim deixaria para escolher em comum
acordo com Manoel o que ficaria para seu uso no presente ou futuro.
A tarde transcorreu
depressa. Nesse meio tempo Manoel havia ido ao banco, verificar a situação das
contas, os investimentos, pagar taxas e faturas diversas. Era preciso passar em
várias agências e dessa forma consumiu a tarde inteira, ficando alguma coisa
para o dia seguinte. Era comum precisar enfrentar filas em vários lugares, de
forma que não se podia chegar, resolver e sair.
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Uberlândia vista noturna. |
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Aeroporto de Montes Claros. |