Família Monteiro, geração
1900
Em 1920, os filhos de
Margarida e Francisco estavam casados. Júlia tinha por marido um juiz de
direito, morando nesse momento em São Borja. Joana encontrara marido no filho
de uma fazenda vizinha. Estava em sua segunda gravidez, torcendo pelo
nascimento de um menino, pois da primeira viera uma menina.
Júlia tivera um menino,
no momento com seis anos, uma menina com quatro. Os gêmeos estavam com um ano e
meio, sendo a alegria dos pais, também dos avós. Pedro casara há poucos meses.
Não tinha ainda nenhum filho, mas a esposa Roseli estava em começo de gravidez.
O herdeiro tinha o nascimento previsto para final de janeiro, início de
fevereiro de 1921. O casal Pedro e Roseli viviamo numa casa nova construida na
proximidade da Casa Grande, onde viviam Carlota, Margarida e Francisco. Por
melhor que fosse o entendimento entre a nora e sogra, a convivência sob o mesmo
teto sempre gera conflitos. Isso levara à decisão de morarem em casas
separadas, embora na mesma propriedade.
A natureza premiou
Pedro e Roseli, trazendo em 02/02/1921 um menino. Era forte e saudável,
transformando-se em motive de grande alegria dos pais. Recebeu o nome de
Joaquim. Frequentemente, os domingos na fazenda eram movimentados,
especialmente quando ali se reuniam as famílias das filhas para comemorar
alguma dada especial, ou apenas para conviverem em maravilhosa harmonia. A
amplidão dos espaços livres eram um convite aos folguedos infantis. Os pais
aproveitavam para deixar que brincassem até cansarem. Especialmente os de
Júlia, já com mais idade e vivendo na cidade, expandiam toda sua vitalidade,
explorando todos os recantos disponíveis. Havia necessidade de vigilância
constante para evitar que se expusessem a riscos sempre existentes, apesar de
todos os cuidados do vovô Francisco. Ao chegar o anoitecer retornavam para suas
casas, levando um grande abraço dos avós, primos e tios.
A década de vinte
transcorreu com algumas transformações políticas. Getúlio Vargas, filho de São
Borja, ascendeu ao posto de president do Estado em 1928. O ano seguinte foi
marcado pelo abalo no mundo econômico ocorrido com a quebra da bolsa de valores
de Nova Iorque. Uma grave crise se estabeleceu no mundo inteiro, demorando
alguns anos para a recuperação dos mercados. Mesmo não estando diretamente
sujeito à influência da bolsa, o mundo econômico brasileiro foi atingido. Em
todos os lugares os efeitos eram perceptíveis, obrigando a ajustes em diversos
setores.
As exportações de
carne, arroz, couro, café e demais produtos nacionais foram afetadas. Os preços
cairam, as quantidades exportadas eram de menor monta, causando uma retração
geral. O mercado cafeeiro mundial em retração e ajustes, provocou uma crise no
setor a nível nacional. Embora o Rio Grande do Sul não seja produtor, foi
influenciado pelos resultados. Em 1930, um movimento rebelde, liderado por
militares, impediu a posse de Prestes na presidência. Um governo provisório foi
entregue nas mãos de Getúlio, resultando na convocação de uma constituinte,
nova Constituição e depois no Estado Novo, que durou até 1945, após o final da
Segunda Guerra.
Com a idade de 24 anos,
Joaquim casou-se com Ana Maria, filha única de uma família vizinha. A
propriedade ficava contígua e o casal inicialmene ficou morando nas terras
pertencentes aos pais da noiva. Carlota sentiu a satisfação de assistir praticamente
a todos os casamentos dos bisnetos, vindo a falecer com a idade de 92 anos, em
1948.
O aparecimento do automóvel, aliado à situação
financeira confortável, trouxe esse acessório para a vida dos proprietários de
fazendas na região. Igualmente os aeroplanos tornaram-se bastante comuns, pois
o terreno pouco acidentado das regiões campestres, facilitava a construção de
pistas de pouso e decolagem. Dessa forma os proprietários mais abastados
frequentemente eram vistos, viajando em seus próprios aparelhos. Via de regra
eram eles próprios ou os filhos que haviam aprendido a pilotar, visto ser nessa
época uma atividade menos complexa do que hoje. Consequentemente também
envolvia maior nível de riscos. Os aparelhos voavam a menores altitudes,
estando mais expostas aos efeitos das tempestades, sempre presentes nas camadas
mais baixas da atmosfera.
Pedro aprendera a pilotar o aparelho que a família
possuia e que pousava e decolava na própria propriedade. Em 1950, viajando com
os pais Francisco e Margarida para Porto Alegre, foram colhidos por um forte
vendaval. Antes que fosse possível encontrar um local para fazer um pouso de
emergência, chocaram-se contra um morro, na região serrana. A pouca
visibilidade e ação do vento desviaram-nos da rota, levando ao acidente. Quando
foram encontrados, não restava nada a fazer. O choque e o incêndio que
sobreveio, deixaram apenas restos carbonizados do aparelho e dos corpos.
De um momento para outro, Joaquim viu-se na posição de
assumir a administração da propriedade da família. Mudaram-se para lá,
encontrando uma imensa casa, onde em cada canto havia lembranças inesquecíveis
da infância e adolescência. O pai e os avós foram sepultados no jazigo erigido
ao lado da capela, recentemente reformada e ampliada. A mãe Roseli, bruscamente
privada da companhia de Pedro, passou algum tempo em depressão. Para agravar a
situação, Ana Maria não conseguia lhe dar um neto.
Uma das primeiras providências de Joaquim foi
reformular profundamente a estrutura da propriedade. Encontrou um novo capataz
geral. Estabeleceu chefes de setores, pois sucessivas aquisições haviam
transformada a Santa Maria em uma das maiores propriedades existentes na
região. Não era possível a um único homem controlar todas as atividades. Passou
a ter um chefe do setor de pecuária de corte, outro da área de agricultura,
assim como uma pessoa encarregada da produção leiteira. Eram atividades
congêneres, mas com características diferentes. Dessa forma conseguiu imprimir
um ciclo de prosperidade acentuada na propriedade.
Os investimentos e consequentemente a produção
sectorial, foram otimizados, levando a um rendimento superior. Roseli, cada vez
mais abalada com a morte prematura de Pedro, ficou com a saúde seriamente
comprometida. Em 1952, pouco mais de dois anos após o acidente, ela sucumbiu a
um ataque cardíaco, possivelmente causado por alguma falha hereditária, não
detectável nesses dias. Os pais de Ana Maria haviam se casado já em idades mais
avançadas e nunca haviam gozado de saúde forte. Em pouco tempo, tanto um quanto
outro, partiram para a eternidade, deixando para Joaquim, além da fazenda Santa
Maria, a propriedade herdada pela esposa. O trabalho praticamente duplicou e
com isso as responsabilidades de seus empregados.
Entre esses encontravam-se Pedro Paulo das Neves e sua
esposa Maria Conceição das Neves. Tinham se casado quando já ocupavam as
posições de Capataz geral e chefe da produção de leite na propriedade. Como
prividência principal, foi transferida a produção leiteira inteiramene para a
propriedade herdada por Ana Maria. Obrigando dessa forma Maria Conceição a
percorrer diariamente a distância, entre as sedes das duas propriedades. Não
era grande, mas mesmo assim representava um pequeno transtorno. Assim Pedro
Paulo e Maria Conceição foram viver na terra que antes pertencera aos pais de
Ana Maria.
Pedro Paulo, como Capataz Geral, não tinha necessidade
de estar continuamente próximo de cada setor de artividade. Para ele era mais
fácil percorer uma pequena distância para ir de um lugar ao outro. Fazia parte
de seu trabalho. Usava em seu deslocamento ora o cavalo ora um jipe que
aprendera a dirigir. Assim chegamos ao ano de 1955, pouco depois da morte de
Getúlio Vargas em pleno exercício de seu mandato como Presidente da República,
para o qual for a eleito, dessa vez por sufrágio universal do povo brasileiro.
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