Gaúcho resolvido!
Capítulo II
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| Manejando o laço(www.abril.com.br) |
Fazenda Santa Maria.
Se retrocedermos algumas décadas, encontraremos por volta
de 1875, a bisavó de Joaquim, dona Carlota Vargas, parente distante da família
do futuro presidente Getúlio Vargas. Havia sido casada com Fulgêncio Vargas,
homem de trabalhador e sério, porém incapaz de ficar sossegado enquanto
existisse algum lugar na região em que houvesse peleia em jogo. Foi com
disposição que se engajou nas tropas brasileiras no combate ao invasor
Francisco Solano Lopes, presidente do Paraguai. Em pouco tempo estava comandando
um pequeno regimento de cavalaria e se destacou em vários combates. Avançou
rumo às terras paraguaias e lá encontrou seu fim, pouco antes do final das
hostilidades. Ficou sepultado por lá e mais tarde a família conseguiu remover
os restos mortais para o jazigo existente na fazenda.
Encontrava-se pois dona
Carlota viúva e com toda a carga de trabalho da fazenda Santa Maria, pesando
sobre seus ombros. Homens bons para comandar os peões nas lides com o gado eram
relativamente raros. Muitos haviam sucumbido assim, como seu marido Fulgêncio
no conflito contra Solano Lopes. Tinha uma filha para terminar de criar e uma
fazenda com falta de braços para conduzir. O belo gado de corte, outrora
orgulho dos donos, estava reduzido, pois boa parte for a vendida ao exército a
preço abaixo do mercado e um outro tanto for a roubado, morrera por falta de
cuidados. Tudo isso deixava a senhora, de resto muito resoluta e guapa. Montava
e laçava igual um peão, não ficando para trás. Só assim conseguia manter o domínio
sobre aquele bando de homens rudes e muitas vezes violentos.
Havia entre os mais
jovens ao seu serviço um menino que lhe chamou a atenção. Hábil no laço, na
doma de cavalos e com os novilhos na hora de marcação ou outras atividades era
brilhante. Era bem quisto entre os companheiros e, apesar da pouca idade, tinha
sempre uma sugestão inteligente a dar para aumentar a eficiência dos
trabalhos. Carlota começou a prestar atenção especial ao peão, pouco mais que
um menino, mas comportamento de homem. Permitia prever que seria um homem de
grande valor no futuro, contanto que fosse conduzido de forma correta.
A falta de um homem de
confiança a quem encarregar de cuidar da preparação desse jovem para ocupar
futuramente uma posição de destaque entre os servidores da fazenda, deixou
Carlota em uma posição ambígua. Se tomasse o jovem sob sua proteção direta,
poderia estabelecer um clima constrangedor para ele perante os demais. Deixá-lo
avançar sob algumas más influências que sabia existirem entre seus servidores,
poderia por a perder uma personalidade ainda em formação. O que facilitou a
tarefa, foi o fato de que a cada dia a popularidade do jovem aumentava entre os
peões, conquistando inclusive a admiração dos mais velhos e antigos. Assim foi
possível atribuir ao mesmo algumas atribuições, inicialmente mais elementares,
que exigiam dele um desempenho diferente. Inteligente e sensível ele logo
percebeu que estava tendo um tratamento diferenciado por parte da patroa.
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| Momento de oração antes do início de rodeio(itzbrasil.blogspot.com) |
Em uma conversa com um
dos mais velhos, alias um tio seu, ele foi orientado a não deixar que essas
distinções lhe subissem à cabeça. Importante seria fazer seu trabalho com o máximo
de dedicação e não deixar esse tratamento diferenciado recebido da patroa,
influenciar seu relacionamento com os companheiros. Ele foi bom discípulo e
seguiu os conselhos do velho peão. Gradativamente suas responsabilidades foram
ampliadas e chegou um dia em que não foi mais possível ocultar a existência de
uma posição especial de parte de Francisco Souza Monteiro na fazenda. Houve algumas
murmurações maldosas por parte de alguns peões, mas foram surpreendidos por Carlota
que lhes pediu explicações. Caso não cessassem com as maledicências, teriam
seus contratos encerrados e estariam sem trabalho. Ser despedido numa época de
carência de trabalhadores, poderia significar vagar por muito tempo a procura
de outra colocação. Até mesmo necessidade de ir para longe em busca de um
trabalho.
Quando Francisco
contava com 20 anos completos, foi oficialmente nomeado por Carlota para a
posição de Capataz da fazenda. Sabia que o jovem enfrentaria algumas resistências
por parte dos mais antigos, mas também conhecia sobejamente sua perspicácia e
habilidade em lidar com situações mais complexas. Diversas oportunidades tivera
de observar a forma como ele enfrentava situações adversas e sempre soubera
contornar de modo sutil cada um dos problemas enfrentados. Ele saberia dominar
de modo firme, mas sem truculência aqueles homens de per si dados a algumas
grosserias e comportamentos menos distintos.
Havia chamado o novo
capataz para conversar, lhe propusera a situação e ele inicialmente não quisera
aceitar. Considerava-se inapto para a função, mas Carlota lhe fez ver uma série
de situações em que se saira esplendidamente bem. Isso aos poucos elevou a
auto-confiança do rapaz, criando nele uma auto-estima fundamentada em seus próprios
méritos. Recebeu o pedido de não deixar a nova função transtornar-lhe os
pensamentos, ao que acedeu de bom grado. Aos poucos iria recebendo as instruções
e passaria gradativamente a exercer seu novo cargo, até ficar plenamente
investido em sua autoridade perante os demais servidores da propriedade.
Foram precisos apenas
poucos dias para Francisco tomar pulso da situação e todos os peões, do mais
idoso ao mais jovem, passaram a respeitá-lo, principalmente por causa da forma
calma e prudente com que enfrentava todas as dificuldades. Logo granjeou, além
do respeito, principalmente a admiração dos subalternos. Nunca se furtava de
participar dos trabalhos. Geralmente era o primeiro a estar na lide e assim não
deixava espaço para murmurações e maledicências. Inicialmente de modo humilde
ele sugeriu a Carlota algumas mudanças na condução da criação e logo falava com
autoridade. Todas as mudanças introduzidas produziram resultados positivos. Em
pouco tempo a fazenda retomava os caminhos da prosperidade conhecida em tempos
passados.
Carlota sentiu-se muito satisfeita com a decisão tomada. Soubera
transformar um jovem, ainda inexperiente, em capataz de inestimável valor. Não
foram poucos os vizinhos que ofereceram a ele o lugar em suas fazendas,
inclusive nesse momento em melhores condições econômicas, mas ele declinou das
ofertas. Sabia ser grato a quem soubera ver em sua inexperiência valores de que
nem ele teria imaginado ser possuidor. A alegria da dona era tanto mais complete,
uma vez que evitava que a fazenda tinha o seu nome devido a uma homenagem que
seu avô fizera à sua avó Maria Vargas. For a uma mulher de rara beleza, alem de incomparável valor humano e moral. Temos aí a origem do nome da fazenda de
nossa historia.
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| Touro no rodeio(baixarmusicasonline.com , 0.jpg) |


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