Vista aérea da Expointer (Esteio, RS) |
Bandeiras nacional e estadual na Expointer. |
Outra tomada da mesma vista. |
Parque de exposições e arredores. |
Preparando as mudanças.
O dia seguinte foi repleto de atividades na fazenda. O
gado requeria seu manejo constante. Havia vacas parindo precisando de
atendimento, lotes de novilhos a serem separados, levados para pastos menos
batidos, um sem fim de cuidados. O plantio de arroz precisava ser concluido com
o adubo e a semente descarregados naquela manhã. O dia terminou deixando muito
por fazer nos próximos. Depois da ordenha, tendo Gaudêncio novamente presente,
prestando atenção em tudo. Isso levou Maria Conceição a pensar sobre o assunto.
O que estaria levando o filho a tomar aquela atitude?
Dava a impressão de ter algum plano em mente. Estava amadurecendo alguma coisa.
Aprendera a respeitar Pedro Paulo quando se encontrava em situação semelhante.
No momento certo falaria e lhe daria ciência de seus pensamentos. No momento do
chimarrão antes do jantar, conversavam sobre os trabalhoss do dia, quando em
dado momento Gaudêncio falou:
- O padrinho gostou da ideia de modernizar o nosso
sistema de ordenha das vacas. Peguei informações hoje com o veterinário e
fiquei sabendo coisas bem interessantes.
- Que história é essa filho? – quis saber Pedro Paulo.
- Eu tinha falado com a mãe sobre o assunto. Li outro
dia numa revista lá na cooperative sobre ordenhadeira mecânica e fiquei
curioso. Hoje dei um toque no padrinho e ficou interessado.
- E isso funciona? Ouvi dizer que dá muito problema
essas tal de máquina de sugar leite dos tetos das vacas.
- Tem as técnicas a seguir, os cuidados de higiene que
precisam ser seguidos e tudo sai direito. O padrinho vem no fim da semana e
vamos conversar melhor sobre isso.
- Você me prometeu que não vai ter gente demitida.
Cada um dos meus ajudantes é quase como um filho para mim. Não vai me mandar um
mundareu de gente embora que aí eu vou junto.
- Eu prometi e está prometido, mãe. Pode ficar
tranquila.
- Mas vai ter que construer instalação nova para isso,
ou não? – perguntou Pedro.
- Tem sim, pai. Mas isso um engenheiro projeta. Até
mesmo a firma que vende as máquinas fornece o básico.
- E compensa gastar um dinheirão nisso? Não é pouca
vaca para tanto investimento?
- Eu estou matutando uma maneira de aumentar nosso
plantel de vacas. Se o padrinho concordar, nós transformamos aquela área de
invernada que fica meia abandonada lá do outro lado do rio, fazemos um lugar
fácil de atravessar e podemos colocar mais umas 40/50 vacas para dar leite.
- Não é muito isso, filho? Nós vamo dar conta de tanta
teta?
- Nós não mãe, mas as máquinas sim.
- Bem filho. Estou aqui para trabalhar e vocês é que
planejem aí essas mudanças. Vamos jantar que está pronto.
Sentaram-se e jantaram, continuando a comentar o
assunto das mudanças no setor leiteiro da fazenda. Ao terminarem a refeição,
prosearam mais alguns minutos e foram para as suas camas. Gaudêncio estava
ansioso por ler mais umas páginas do livro. Estava no ponto em que Ana Terra e
junta a uma caravana e deixa para traz o lugar onde nascera. Queria saber o que
aconteceria na continuação. Voltou rapidamente para a casa grande e serviu-se
de um copo de vinho. Enquanto lia bebericava a bebida. Ficou de olho no relógio
para não passar da hora. Era muito bom ler, mas não até tarde demais. Enfrentar
o dia de trabalho com sono era péssimo.
Na manhã seguinte estava em pé logo cedo. Foi assistir
à continuação do plantio de arroz que fora interrompido por falta de sementes e
adubo. Graças a Deus o tempo estava ajudando. Com mais alguns dias toda área
estaria plantada, permitindo então um pouco de descanso. Antes disso os
tratores roncavam dia e noite, com os operadores se revezando. Haviam montado
uma verdadeira operação de guerra para conseguir terminar o plantio. Um
alojamento e cozinha haviam sido montados perto da área para que os
trabalhadores não precisassem se deslocar longe.
A reposição de semente e adubo nas plantadeiras
funcionava que nem linha de montagem. O operador nem desligava a máquina,
descendo apenas para beber água, comer alguma coisa e fazer suas necessidades.
Ao voltar tornava a embarcar e voltava ao eito para continuar semeando. Gaudêncio
imaginou uma foma de evitar que fosse necessário deslocar a máquina até o
depósito e depois voltar. Deu ordem aos operadores que estavam de folga para
trazerem ali os tratores mais antigos que não eram usados no plantio. Serviriam
para puxar as carretas com sementes e adubo para uma posição mais próxima de
onde os outros estivessem plantando. Isso pouparia um tempo precioso.
Foi obedecido e logo ficou visível o aumento do
rendimento do serviço. Se continuassem no rítmo em que estavam, era provável
terminarem um ou até dois dias antes do previsto. Realmente foi isso que
aconteceu. Ao meio dia, terminaram o serviço e havia previsto que isso
aconteceria na noite seguinte apenas. Fora a estratégia de Gaudêncio que fizera
a diferença.
No sábado anterior Joaquim viera para a fazenda e
permanecera ali até o término do plantio. Falara com o afilhado que
providenciou carne para a feitura de churrasco em abundância para todos os
trabalhadores. Nesse meio tempo passaram algumas horas trocando ideias sobre o
assunto que estava ocupando os pensamentos de Gaudêncio. As tais ordenhadeiras.
Falou ao padrinho de suas ideias para dispor de mais pasto e poder colocar uma
quantidade maior de animais na produção de leite. Valeria mais a pena comprar
uma máquina maior, proporcionalmene mais barata, desde que houvesse leite para
tirar.
Aproveitaram para irem até o local que ele tinha em
mente transformar em pastagem. Olharam detalhadamente, percorreram de lado a
lado, observando os detalhes do terreno, as dificuldades que iriam encontrar.
Tudo pesado, colocando os pros e contras, valia a pena tentar fazer o que estava
sendo sugerido. Joaquim vira na televisão que nas proximidades de Porto Alegre
seria realizada uma grande exposição de gado. Tanto de corte como de leite.
Nessas ocasiões também são apresentados equipamentos úteis nessas atividades.
Seria interessante fazerem uma visita a esse evento.
A data marcada era logo depois do feriado de início de
novembro. Uma ideia fulgrou na mente de Gaudêncio. Poderia visitar a namorada e
aproveitar para ir até a feira. Levaria a família junto e passariam lá um ou
dois dias, vendo tudo, conhecendo equipamentos e animais. Propôs o plano a
Joaquim que gostou e falou:
- É conveniente irmos juntos a essa feira. Podemos até
negociar vacas, máquinas e tal ali mesmo. Sempre tem preços especiais,
facilidades de financiamento. Vamos sim.
- Eu vou antes do feriado para visitar a Ângela. Vamos
juntos de avião mesmo. Eu tenho uns amigos por lá e me ajeito enquanto você
namora.
- Combinado padrinho. Eu peguei um livro na estante
que era da madrinha e comecei a ler. Sabe que estou gostando um bocado. Nunca
imaginei ser tão bão ler.
- E como andam os estudos para voltar a escola?
- Estou pra lá da metade das apostilas. Está cada vez
mais fácil. Foi o tempo de tirar a poeira e ferrugem para tudo voltar, mais
fácil que antigamente.
- Isso é bom. Estou vendo que vai se sair bem na
escola.
- Acho que quando a gente sente vontade de aprender,
fica mais fácil. Antigamente eus ó queria saber de montar a cavalo, correr
pelos campos, ver o arroz crescer. Como eu gostava de catar ovo de Quero-quero.
Eles ficavam uma fera comigo e com os moleques que iam junto.
- Os tempos mudam, Gaudêncio.
- E como. Só de pensar em coisa de uns meses para trás
e hoje, quanta diferença.
- Agora você está virando homem de verdade. Esta
amadurecendo para a vida.
- Isso deve de ser verdade, padrinho. Um ror de coisas
que eu gostava, hoje não me atrai mais. Tem coisas mais importantes para me
ocupar.
- Principalmente um belo rabo de saia, com um lindo
par de olhos e uma vasta cabeleira.
- Também, mas não é só. Por exemplo essa questão da
ordenha. Me deu assim meio que de repente. Via a mãe e os ajudantes naquela
lida diária de expremer as tetas das vacas e me deu uma dó.
- Mas foi assim desde o começo do mundo. Hoje temos
essas coisas modernas. Imaginou plantar todo aquele mundo de arroz com matraca?
- Virgem Maria! Nem pensar.
- O trator e a semeadeira tornaram tudo muito mais
fácil.
- E as ceifadeiras então? Uma delas faz em horas o
serviço de centenas de homens trabalhando dias sem parar.
- O mundo de hoje exige que seja feito assim. Na moda
antiga não dá mais. Tem gente demais no mundo querendo comer, mas não quer
plantar.
- Dá licença que eu vou ler um pouco e depois dormir.
Boa noite. A benção padrinho!
- Deus lhe abençoe e boa noite.
Foi até seu quarto, pegou o livro e leu algumas
páginas, porém logo os olhos pesaram e decidiu deixar o resto para outro dia.
Deitou e dormiu. O feriado seria dali a duas semanas e pouco. Caia numa quarta
feira. Joaquim se encarregou de providenciar as passagens no voo da tarde de
terça feira. Ângela foi avisada da chegada, perto do anoitecer e ficou ansiosa
esperando a primeira visita do namorado depois da estadia na fazenda.
Providenciou para que tudo estivesse em ordem. O quarto em que ele iria ser
hospedado foi limpo e arrumado. Foi com a mãe ao supermercado fazer as compras
dos mantimentos que julgou necessários. Sabia que o padrinho do namorado viria
junto, mas ficaria em casa de amigos. Estava animada com a promessa de passar
um ou dois dias na feira agropecuária na semana seguinte.
O feriado foi aproveitado para passearem por diversos
lugares da capital. Almoçaram num restaurante à beira do Guaiba, degustando
diversos pratos de peixe. Depois, aproveitando o fato de a maioria da população
procurar os cemitérios para prestar homenagem aos entes queridos que ali
repousavam, passearam pelo centro sem grandes problemas. As ruas estavam pouco
movimentadas, retornando à uma aparente normalidade após as 18 horas. O dia
seguinte era sábado, de modo que muitos aproveitavam para, depois da visita ao
campo santo, viajarem para o litoral. Iriam aproveitar o tempo ensolarado para
descansar nas belas praias.
Ângela e Gaudêncio foram ao cinema onde assistiram a
um filme estrelado por Gianni Morandi, ator e ator do cinema italiano. Voltaram
emocionados e antes de entrarem no edifício, trocaram o primeiro beijo.
Começavam a ficar profundamente apaixonados. Iriam sentir falta da mútua
presença nos dias em que ficariam afastados depois da volta dele para a
fazenda. A noite passou e no sábado era inagurada a feira na cidade vizinha. A
distância era pequena. Combinara com Joaquim encontrarem-se antes de se dirigir
para lá. O padrinho alugara um carro e seguiriam juntos. Os pais de Ângela
iriam somente no domingo. Um amigo vinha lhes fazer visita no sábado.
Máquinas na Expointer. |
Maquinas e veículos. |
Vista do entorno do parque de Esteio. |
Exposição de cuias para chimarrão. |
Chegaram cedo para estarem presentes ao ato inaugural
da feira. Houve show de músicas típicas, danças, desafio de repentistas, uma
banda fez uma apresentação de meia hora. Era um evento grandioso e tudo que de
mais moderno existia no mercado relacionado com o setor estava repesentado. Os
maiores criadores e produtores do estado estavam presentes, mostrando seus
produtos, competindo pelos prêmios nas diversas categorias de animais. O espaço
onde estava instalada a feira era enorme, sendo necessário um bocado de tempo
para percorrer todos os setores.
A grande variedade de produtos expostos atraia tanto
curiosos, quanto interessados em sua aquisição. Paralelamente estavam presentes
postos de atendimento bancário para encaminhar financiamentos pelos agentes
financeiros públicos e também os privados. Disputavam os potenciais clientes,
distribuiam farto material de propaganda, brindes, cafezinho, a indefectível
cuia de chimarrão não poderia faltar. Uma incontável quantidade de grupos se
formava ao longo dos corredores, cada um querendo chegar na vez primeiro para
tomar uma cuia. Até as indústrias de erva-mate estavam presentes, divulgando
seus produtos, fazendo degustação e distribuindo pequenas embalagens com os
produtos, suficientes para fazer um mate.
O sábado foi consumido em apenas percorrer as
principais áreas da exposição. Queriam localizer os seus pontos de interesse
pra nos dias subsequentes sentar com os possíveis vendedores e negociar, fazer
propostas, discutir condições. Mas antes de nada queriam conhecer todos os
detalhes de tudo que lhes interessava adquirir. Teriam a semana inteira pela
frente para isso. Pedro Paulo e Maria Conceição se encarregariam de cuidar de
tudo na fazenda. Podiam pois gastar o tempo necessário para a realização
eventual de negócios, ou pelo menos deixá-los entabulados.
A noite de sábado pegou aos três bastante cansados e
cuidaram de ir para cama cedo. Queriam estar bem dispostos no domingo para ver
o resto da feira e depois começar a procurar o estabelecimento de negociações.
Haviam se enganado, pensando que faltava pouco para ver. Quando se deram conta
era meio dia e ainda não haviam tido oportunidade de procurar os vendedores de
equipamentos que lhes interessavam. Em um restaurante ao ar livre almoçaram um
bom assado de costela em fogo de chão. Logo depois de se sentirem satisfeitos,
partiram para o lado dos vendedores de equipamentos.
Havia duas marcas de ordenhadeiras e seus acessórios.
Vários tamanhos e modelos, com os preços igualmente variando em diversos
níveis. Os vendedores se esmeraram em atendê-los, explicando, demonstrando e
fazendo cálculos para aquisições à dinheiro, financiado por banco ou
diretamente com a empresa. Sairam do primeiro e foram ao segundo. As ações se
repetiram com poucas variações. Ainda tiveram tempo de ver máquinas de cortar e
picar forragem para preparação de silagem. A produção de leite habitualmente
caia nos meses de inverno, devido ao empobrecimento das pastagens devido ao
frio. Isso implicava na necessidade de prover forragem de volumosos e assim
manter a produtividade num bom nível.
Ao se retirarem no início da noite estavam carregados
de prospectos, folhetos, cartões de visitas, orçamentos, com todas as
informações que necessitavam para efetuar as possíveis compras. A segunda feira
seria dedicada a procurar um reprodutor ou dois para o gado de corte. Queriam
ver também a disponibilidade de novilhas em ponto de cobertura ou mesmo
cobertas para ampliar o plantel de matrizes leiteiras. Um reprodutor de alta
linhagem também era interessante para alcançarem um padrão de maior produção
por cabeça. Isso significava lucro futuro. A era das chamadas vacas “pé duro”
estava ultrapassada. O mesmo trato consumido por uma delas alimentava uma outra
de alta produtividade. Evidentemente os animais de raça exigiam um cuidado
maior do ponto de vista fito-sanitário, mas sua produção maior compensava essas
necessidades.
Na segunda-feira Ângela não os acompanhou. Tinha aulas
da escola de magistério que frequentava. O final do segundo ano estava se
aproximando e exigia caprichar para não perder o nível de seu rendimento
alcançado até aquele momento. Haveria tempo de se verem à noite. Poderiam
assistir uma sessão de teatro, ver um filme na televisão e mesmo conversar.
Tinham tanto a se dizer, ouvir de suas vidas, seus sentimentos. Era importante
terem esses momentos de tranquilidade para se conhecerem suficientemente. Se
houvesse disposição para seu relacionamento evoluir de simples namoro,
transformando-se em noivado ou talvez casamento, o máximo de conhecimento que
tivessem um do outro era fundamental.
Ângela, apesar de sua juventude, havia sido muito bem
orientada pelos pais. Sabia o que buscava para sua vida. Não dava valor a
futilidades. Depois de um dia intenso de conversas, observação, propostas e
contrapropostas, voltavam novamente com as mãos cheias de papéis, fotografias e
folhetos. Joaquim deixou Gaudêncio na portaria do edifício e foi descansar.
Ângela estava na sacada quando o carro parou e ela viu saltar o seu amado.
Imediatamente desceu pelo elevador e encontrou Gaudêncio no momento que ele
entrava pelo saguão.
- Boa tarde meu bem!
- Boa tarde, querida! Só não estou em condições de lhe
abraçar. Passei o dia no meio de vacas, touros e novilhas. Devo estar cheirando
a qualquer coisa, menos perfume.
- Até que nem é tão forte assim.
- Mas estou louco por um banho e roupa limpa.
- Vai querer ir a algum lugar ou prefere ficarmos em
casa?
- Deixe-me pensar um pouco. Logo depois do banho eu
decido. Nesse momento meu cérebro nem está funcionando direito. Está quente e o
dia inteiro no meio daquela multidão, deixa a gente grudento.
- Deixe-me ver se fico grudada.
- Não faça isso, amor. Estou sujo e você está
cheirando a flôres. Sua roupa limpa.
- Posso trocar de roupa depois, se essa ficar suja.
- Coitada da sua lavadeira!
- Quem faz esse serviço é a máquina de lavar.
- Está aí uma coisa que vou providenciar para minha
mãe. Ela já tem tanto trabalho e uma máquina de lavar roupas, virá a calhar
para aliviar a carga.
- Ótima ideia, amor. Fiquei com pena dela e das
empregadas encarregadas de lavar a roupa quando estivemos lá. Não falei nada,
pois não era de minha conta.
- Mas você tem razão. Preciso remediar essa falha
logo.
Chegaram ao apartamento e nosso enamorado foi tomar
seu banho e trocar a roupa. Ao sair do quarto, vinha com aparência mais suave e
aliviada.
- Está se sentindo melhor agora, amor?
- Nem te conto! Parece que tirei uma tonelada das
costas.
- Venha aqui na sala. Papai fez chimarrão. Quer que
você experimente e diga se fez certo. Estamos aderindo ao hábito. Papai tomava
chimarrão quando era menino, mas depois ficou muitos anos no norte e perdeu o
hábito.
- Vamos lá. Deve estar bom para a primeira vez que
faz.
Foram até lá e encontraram o casal as voltas com a
cuia de chimarrão. Queriam voltar ao velho hábito, abandonado por força das
circunstâncias da vida. Os jovens sentaram e o general estendeu a ele a cuia
recém servida. Havia um leve travamento, mas uma pequena movimentação da bomba,
foi suficiente para fazer o líquido fluir facilemente. Saborearam alegremente a
bebida enquanto dona Lourdes ia e voltava da cozinha onde preparava o jantar.
Gaudêncio decidiu não sair, para estar mais descansado no dia seguinte.
Conversariam até sentirem vontade de dormir e iriam para a cama.
Depois de algumas rodadas da cuia, a refeição ficou
pronta e deixaram a cuia de lado para irem matar a fome. Gaudêncio se dispôs a
ajudar Ângela no lavar e enxugar da louça. Com alguma relutância a mãe da jovem
aceitou e piscou discretamente para a filha, como quem diz, aproveita para
descobrir como ele se comporta numa situação dessas.
Não era novidade para ele lavar ou enxugar louça.
Desde menino fizera isso inúmeras vezes para ajudar a mãe. Não era rara a
ocasião em que se encarregara de fazer ambas as tarefas quando a mãe estava
ocupada com alguma outra coisa, ou mesmo cansada por algum motivo qualquer. Enquanto
Ângela lavava ele enxugava cuidadosamente cada peça, colocando-as sobre a mesa,
para depois serem guardadas em seus respectivos lugares.
Depois disso, sentaram-se na sala onde os pais estavam
vendo TV. Estava sendo transmitido o programa Fantástico. Assistiram até
o final e foram dormir. Os namorados tiveram seu momento de liberdade e puderam
se dedicar a algumas carícias mais ousadas, embora mantendo o decoro e
respeito. Ambos sabiam que se ultrapassassem determinado limite poderiam perder
o contrôle e esse não era o objetivo. Conversaram longamente, contando
passagens de suas vidas, momentos alegres outros menos, que deixaram marcas em
suas almas. Suas reações diante dessas situações mostravam um ou mais aspectos
da personalidade que tinham. Esse conhecimento ajudaria a harmonizer sua convivência.
Quando eram 11 h 30min, depois de um prolongado beijo
carinhoso, se desejaram bons sonhos e foram dormir em seus aposentos. Na manhã
de terça, Gaudêncio tomou café da manhã com o general, despediu-se deles e
desceu para encontrar o padrinho. Iria enfrentar mais um dia na feira em busca
de animais e equipamentos para aprimorar a produção na fazenda. Quando a noie
chegou, tinham adquirido um reprodutor da raça nelor de boa progênie e um outro da raça gir. Haviam visto o resultado do cruzamento de vacas holandesas com
touros gir e o resultado eram animais de maior rusticidade, bom potencial de
produção leiteira e ainda uma conformação de carcaça mais em acordo com o
preferido pelos frigoríficos para o abate.
Os bezerros machos tinham que ter alguma destinação. Quanto
maior fosse o valor de mercado depois de grandes e gordos, melhor seria. Decidiram
deixar para comprar as fêmeas nas propriedades situadas em pontos mais próximos
da fazenda. Evitavam com isso o custo excessivo com o transporte e ainda os
riscos que isso implicava. Encontraram expositores até vindos do Uruguai. Traziam
animais de raça principalmente holandesa e jersey. Ficava evidente que eles
teriam maior dificuldade em se adaptar às condições existentes no campo gaucho.
Faltava concluirem a negociação dos equipamentos e deixaram isso para o outro
dia.
Naquela noite os namorados acompanharam os pais dela
ao teatro para assistir a uma peça apresentada por uma companhia espanhola que
estava excursionando pela capital. O enredo era de um dramaturgo espanhol. Era
um misto de drama e comédia. Havia momentos de hilariedade alternados com
outros de intensa comoção diante das cenas trágicas. Havia um raro equilíbrio
entre os dois extremos, dando ao espetáculo um viés de bom gosto e
criatividade. Voltaram para casa conversando alegremente sobre as cenas mais
marcantes. A duração era um pouco alongada e ao chegarem foram logo dormir.
A terça-feira seria de provas na escola e Ângela
estaria livre por volta das 10 horas. O pai falou que viria para casa e levaria
a esposa e a filha até a feira. Naquele dia ocorreria a competição de montaria
e adestramento de cavalos. Ângela era aficionada dessa modalidade e queria
assistir. Assim poderiam se encontrar e passar algum tempo juntos se Gaudêncio
já tivesse terminado as negociações que pretendiam fazer nesse dia.
Naquela manhã receberam uma proposta interessante. As vendas
de máquinas ainda não atingia o nível esperado e os vendedores apresentaram
preços mais acessíveis. Em pouco tempo fecharam o negócio de compra da máquina
a ser instalada na fazenda. Faltava a máquina de preparar silagem. Ao lado da
empresa das ordenhadeiras havia também uma outra que vendia esse equipamento. A
compra foi fechada e a entrega seria feita em dois meses na fazenda. O preço
foi financiado pelo Banco do Brasil, com prazo facilitado.
Desfile de amazonas no dia da mulher em Esteio. |
Cavaleiros e suas montarias na pista de adestramento. |
Entrada da pista de adestramento. |
Com todos os negócios fechados, os dois foram
encontrar a família de Ângela junto ao local das apresentações de hipismo. Gaudêncio
passou um longo momento admirando a bela silhueta de sua amada. Ela por sua vez
estava empolgada vendo as evoluções que os cavaleiros faziam na pista, de tal
modo que demorou a perceber a presença do rapaz. Ruborizou violentamente e
pediu desculpas.
- Você quando fica empolgada se torna mais bonita
ainda. Eu estava apreciando seu entusiasmo. Estou vendo que vai ser mais fácil
se acostumar a viver na fazenda do que imaginei.
- Eu amo animais, especialmente cavalos. Eles são meus
preferidos.
- Vou lhe dar um de presente. Assim quando for passear
na fazenda poderemos cavalgar. Se não souber eu ensino.
- Ela aprendeu a cavalgar quando era menina. Agora faz
algum tempo que não tem oportunidade de exercitar-se na montaria.
- Pena não saber, pois poderíamos ter remediado isso
quando estiveram lá.
- Fica para a próxima.
Assistiram ao final das apresentações e antes de
voltarem para casa, assistiram a um show de músicas típicas. Enquanto viam o
espetáculo, aproveitaram para comer num lugar que estava armado ali mesmo,
perto do palco. Depois de encerrado o show voltaram para casa. Na quinta feira
marcariam as passagens para retornar. Estavam for a há mais de uma semana.
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