Amanhecer em São Borja. |
Instalações ficam prontas.
Nos arrozais os peixes cresciam a olhos vistos. Já
eram visíveis nadando aos cardumes por toda parte. As bocas pareciam não parar
de abocanhar pequenos bichinhos, praticamente invisíveis. Ficava fácil de
imaginar o dano que alguns deles poderiam causar ao arroz, diminuindo seu
desenvolvimento pleno, reduzindo no final a produtividade. Enquanto isso as
obras da empresa de engenharia avançavam rapidamente. A estrutura estava
pronta, faltando apenas o acabamento. Isso estava sendo facilitado agora que o
telhado estava colocado. Assim, mesmo em dias chuvosos era possível continuar
trabalhando sem problema. O final de janeiro estava perto e faltavam alguns
pequenos detalhes. Testar as instalações de água, aguardar a secagem de rebocos
e pisos recentemente preparados.
Gaudência, diante disso, dirigiu-se ao representante
local da empresa venderora dos equipamentos. Indagou da disponibilidade deles
para realizar a instalação. Na semana seguinte poderiam vir para realizar a
última etapa, antes de poderem iniciar a implantação da ordenha mecânica. Em
minutos o representante falava com a matriz na capital. Informou o número do
pedido, confirmou os ítens adquiridos, encontrando tudo em ordem. Desligou e
dirigiu-se ao cliente:
- Até no máximo dia 10 de fevereiro estará tudo
instalado. Devem despachar as máquinas antes do final do mês pela ferrovia e os
técnicos vem depois de caminhonete. Está bem assim?
- Ótimo. Até lá o cimento seca direito e não vai haver
mais problema. Estou ansioso por ver isso tudo funcionando, mas sei que tem
necessidade de esperar até ficar pronto.
- Isso é assim mesmo, Gaudêncio. Todo mundo quer ver
as novidades implantadas e funcionando. Não é só você que passa por isso.
- Eu não quer atropelar as coisas, pois isso pode
causar mais danos do que esperar mais um pouco.
- Está certo.
- Me avise quando chegarem as máquinas ou vocês
providenciam o transporte até a fazenda?
- Nós cuidamos disso. Não se preocupe.
- Até logo e obrigado.
Saiu dali e foi resolver um compromisso no banco. Na
verdade queria verificar a disponibilidade do dinheiro para cobrir os custos
financiados pelo banco. Não que o valor fosse ser depositado em conta, mas
saber se estava tudo em ordem para que o valor fosse creditado à empresa
vendedora no momento da conclusão da instalação. Estava tudo certo. O contrato
for a assinado, os cadastros todos preenchidos, dados da empresa vendedora
informados. Bastaria levar o comprovante de entrega do material e sua
instalação e o dinheiro seria liberado.
Saindo do Banco ele foi até o colégio ver a situação
de sua matrícula para dar continuidade nos estudos. Aproveitara todos os
momentos livres nos últimos meses para estudar, revisar os conteúdos. Além
disso literalmente devorara uma porção dos livros que haviam sido de sua
madrinha. Além do primeiro, encontrara um mais interessante que o outro. Em
várias ocasiões se pegou pensando que estivera perdendo tempo por uma porção de
anos. Aqueles mesmos livros que agora devorava avidamente, haviam estado ali,
na mesma estante durante praticamente toda sua vida e só agora lhes dera
importândcia. Mas não adiantava chorar o tempo perdido. Urgia não perder mais
dali por diante.
As matrículas estavam abertas e ele providenciou a
sua. Encontrou com a secretária que lhe emprestara as apostilas para revisar o
conteúdo e lhe falou de seus progressos. Ela lhe deu boas vindas ao colégio e
parabenizou pelo fato de também ter se interessado pela leitura. Ali estava um
excelente sinal. Sem dúvida iria fazer progressos rapidamente. Era mais que notório
que o interessi do aluno pelos conteúdos representava mais de meio caminho
andado rumo ao aprendizado. Ele se despediu para retornar à fazenda, depois de
passar pela casa do padrinho que lhe pedira para olhar se tudo estava em ordem
por lá. Fazia dias não vinha para a cidade.
A governanta lhe pediu algumas coisas que ele
providenciou no comércio para abastecer o que estava em falta. Depois, já um
pouco passado da hora do almoço, tomou o caminho de casa. Almoçaria em casa,
pouco importando se fosse preciso requentar a comida. Não seria a mesma coisa
que sentar-se para comer no momento de tirar as panelas do fogo, mas não havia
como fazer tudo na hora desejada. Ao chegar a mãe o esperava com um prato ainda
quente na beira do fogão a lenha. A fome estava grande e ele sentou-se sem
cerimônia. Maria Conceição recomendou que comesse mais devagar. O prato não
fugiria dali.
- Tem razão mãe. Às vezes me ponho a comer depressa, pensando
que vou terminar antes e dar tempo de fazer mais coisas.
- Não adianta nada. Comer depressa causa é indigestão
depois. E então como fica?
Passou a comer mais
devagar, mastigando bem os alimentos. Ao terminar, sentiu-se refeito e o
alimento não estava pesando no estômago. Sentou-se alguns minutos e respondeu às
perguntas da mãe que queria saber em que pé estava a instalação das máquinas. Satisfeita
a curiosidade da genitora, ele foi cuidar dos afazeres. Primeiro passou pela
casa grande, trocando a roupa que usare na ida a cidade, por outra mais
adequada às andanças pela fazenda. O padrinho igualmente queria saber como
estava a entrega e ele lhe satisfez a vontade. Por fim Joaquim quis ir junto
percorrer a propriedade. Ficara por algumas semanas na cidade no começo do ano
e viera no último final de semana.
O resto da tarde foi
gasto em vistoriar o desenvolvimento do arroz. A presença dos peixes era
importante no controle dos insetos nocivos, até mesmo algumas plantas ficavam
mais controladas. Cada vez se convenciam mais do acerto de sua decisão em
trazer os alevinos. Ao mesmo tempo a associação dos pescadores estava
procedendo à adaptação de um prédio antigo e sem uso para ali processar o
pescado que seria oriundo das fazendas de arroz. As mesmas instalações
serviriam para armazenar os excedentes de peixe pescado no rio em ocasiões
especiais. Isso tornaria a possibilidade do abastecimento ao longo do ano mais
uniforme. Haveria variação das espécies, mas não faltaria o peixe.
Até aquele momento, em
algumas ocasiões, era preciso trazer o produto congelado de longe. O frete
elevava o custo e consequentemente o consume caia muito. Dessa forma a vida financeira
dos pesacadores oscilava continuamente, nunca passando muito tempo em equilíbrio
razoável. O Banco do Brasil havia usado uma linha de crédito especial para que
fosse possível fazer as instalações e modificações necessárias. Grupos de
pescadores e seus familiares, foram treinados para assumir as tarefas específicas
dessa nova atividade.
Tinham intenção de
percorrer as áreas de pastagem, mas anoiteceu antes que tivessem tempo de faze-lo.
Fariam isso na manhã seguinte. Haviam se entretido apreciando a beleza do viço
e excelente sanidade observado na plantação do arroz. A área destinada à
forragem das produtoras de leite também haviam vistoriado. O plantio de milho e
outras forrageiras como sorgo, havia ocorrido um pouco mais tarde. No entanto
haveria tempo para o corte e produção de silagem. Isso garantiria a alimentação
dos animais no período de pastos deficientes. Teriam uma manutenção do nível de
produção de leite no inverno. O veterinário e também o agrônomo do sindicato
rural haviam contribuido com orientações para levar isso tudo a efeito.
No dia 02 de fevereiro
receberm o aviso do representante de São Borja de que as máquinas estavam na
estação de carga/descarga. Fariam o transporte no dia seguinte ou no máximo até
o dia 05. Igualmente lhes foi informado que no dia 04 a equipe encarregada da
instalação estaria chegando para fazer sua parte na transação. Um caminhão
trouxe o equipamento. Um trator, equipado com concha de carregadeira, foi usado
para facilitar a retirada de cima do veículo. Mesmo havendo trabalhadores
suficientes para fazer o trabalho, o uso da máquina tornou o processo mais fácil
e seguro.
Como as obras de
engenharia haviam sido executadas em conformidade com as recomendações do
fabricante, foi possível colocar as máquinas de imediato no lugar da instalação.
Isso facilitaria o trabalho dos técnicos e apressaria a conclusão de sua
tarefa. No próprio dia 03 ao entardecer, o grupo chegou e foi acomodado em
quartos existentes na casa grande. Ficaram satisfeitos pois assim não teriam
que ir e voltar da cidade, ganhando tempo com isso.
Realmente, em pouco
mais de três dias estava tudo instalado. Fizeram os testes costumeiros e
avisaram aos proprietários de que no dia seguinte poderiam fazer a primeira
ordenha mecânica. Os empregados foram avisados e em princípio, todos ficaram
prontos a receber as instruções de uso dos novos equipamentos. Quando se
iniciuou o procedimento, os animais estranharam primeiro o novo local onde
iriam ser tratados e submetidos ao processo de retirada do leite. Depois chegou
o momento de colocar as teteiras em lugar das mãos. Era preciso imobilizar as pernas
para evitar os coices e danos nos equipamentos. Faixas para isso acompanhavam a
ordenhadeira.
Deram um pouco de
trabalho, mas sendo de índole em geral pacífica, não foi difícile fazer a
transição. Elas, desacostumadas à novidade, custavam um pouco para soltar o
leite. Depois que superavam essa rejeição, tudo começou a fluir naturalmente.
Sem dúvida havia alguns animais menos dóceis que davam mais trabalho, mas nada
que impedisse a realização da ordenha ao final. Quando viu o leite colocado no
resfriador, de onde seria transferido para o veículo de transporte, Maria
Conceição não quis acreditar. Em muito menos tempo, sem quase nenhum esforço,
um volume de mais de 1200 litros de leite estava ali, pronto para lhe ser dado
destino.
Procedeu-se à destinação
das quantidades necessárias para atender a todos os trabalhadores, além de
confecção de algumas peças de queijo, muito apreciado. Mesmo assim sobravam
perto de 1000 litros. Esse volume, reunido ao tirado na noite anterior e
guardado no resfriador já em uso, daria mais de 2000 litros. Em alguns meses,
com a entrada em produção das novilhas compradas, esse volume seria
significativamente reforçado. Os técnicos ainda permaneceram mais dois dias no
local, acompanhando a adaptação dos animais e dos trabalhadores ao novo modo de
proceder. Depois que tudo estava fluindo normalmente, eles se despediram e
retornaram à capital. Antes tinham mais duas fazendas para fazer a amesma
instalação. Uma delas em Uruguaiana e outra na região de Santa Maria, já no
caminho de volta.
Quando tudo ficou
estabelecido, os melhor adaptados ao novo modo de ordenha, foram efetivados
nessa tarefa. Os demais temeram ser demitidos, chegando a ficar grandemente
preocupados. Mas antes que isso acontecesse, alguns dos mais antigos foram
aposentados e os demais foram realocados em novas tarefas. Houve quem fosse
treinado nas tarefas de operação de máquinas como tratores, trituradores para silagem
e outras. Também foram treinados, especialmente mulheres, para atuar na produção
dos queijos. Gaudêncio tinha como objetivo produzir uma variedade de queijo
colonial com qualidades especiais. Isso requeria especialização de funcionários.
Dessa forma Maria
Conceição teve seus temores removidos. Ninguém perdera o emprego. Os poucos que
tinham alcançado idade para aposentadoria e tempo de contribuição suficiente
passaram a perceber sua aposentadoria. Além disso lhes foi concedido o direito
de permanecerem vivendo nas casas que ocupavam. Todos eles tinham filhos ou
filhas trabalhando em algum serviço dentro da propriedade. Dessa forma passavam
a fazer parte do serviço em suas casas, aliviando o fardo dos outros membros.
Assim ficavam com atividades, compatíveis com suas forças. Isso era resultado
da implanação do INPS. Além disso tinham direito ao FGTS, permitindo que
dispusessem de um pecúlio para suprir alguns anseios há muito acalentados.
Em poucos dias tudo
retomou sua rotina. As vacas não mais estranhavam o local, nem o uso das
teteiras. Pareciam até mais calmas agora, não sofrendo com as constantes trações
para baixo por parte de alguns ordenhadores. Em alguns dias, houve até um
pequeno aumento na produção.
Nesse meio tempo, as
semanas passavam e os cachos de arroz começavam a “engordar”. Os grãos
inicialmente magros, aos poucos ficavam recheados. Mais alguns dias e começaram
a pintar levemente de dourado. Em pouco os campos se cobriram de uma cor
amarelada. Era hora de começar a retirar a água das áreas mais adiantadas e
assim deixare a área pronta para a colheita. Do contrário as máquinas teriam
problemas em se movimentar para fazer o trabalho. Na fazenda Santa Maria e também
na Santana, havia ainda outro problema. A água que seria retirada, implicava na
remoção de muitas toneladas de peixes ali colocados alguns meses antes na forma
de minúsculos pontos. Agora estavam medindo entre 15 e 20 cm de comprimento.
Era a primeira vez que
isso seria feito e logicamente requeria um período de aprendizado. Nas semanas
anteriores Gaudêncio viajara para uma fazenda em Uruguaiana que usava a técnica
e o arroz ficara maduro um pouco antes. Foi aprender como seria mais adequado
fazer esse trabalho. Levou consigo dois auxiliares para poderem trabalhar em
mais de uma equipe. Os pescadores estavam esperando para fazer o processamenrto.
Se preciso fosse, trabalhariam em turnos alternados, durante as 24 horas do
dia. Depois dos primeiros dias e alguns pequenos acidentes, dominaram o
procedimento e toneladas atrás de toneladas os peixes foram levados para o
frigorífico dos pescadores.
Arroz no ponto de colher. |
Arroz amadurecendo. |
Quando foi a hora de
iniciar a colheita, o solo estava seco o suficiente para as máquinas poderem
entrar na área. A colheita foi farta. Os cachos estavam pesados e as
colhedeiras enchiam caçambas e mais caçambas do precioso cereal. Os caminhãos
se revezavam em transportar o produto para os silos onde ficaria armazenado até
o processamento pelas indústrias. O carnaval dera à família do general ocasião
para voltar à fazenda. Gaudêncio deixou para viajar à capital por ocasião da páscoa.
Até lá o arroz estaria colhido em sua maior parte. Estava, paralelamente,
envolvido agora com a sua presença às aulas.
Colheita em andamento. Ainda se vê água no solo. |
Arroz sendo colhido e ao lado os canais de irrigação. |
Moderna ceifedeira de arroz. |
Notou com satisfação
que ao seu lado estavam homens, rapazes, moças e mesmo senhoras com idades variando
de 16 a algo em torno dos 40 anos de idade. Uma verdadeira miscelânia de
idades. Isso deixava o problema da sua adaptação ao ambiente escolar, relegado à
insignificância. Não era nem o mais jovem, muito menos o mais velho na sala. Em
poucos dias estavam integrados, considerando-se, antes de mais nada, todos
colegas. Tinham deixado a formação escolar de lado em sua época própria e agora
corriam atrás do bonde. Era frequente ouvir a expressão: Antes tarde que nunca.
Como em todas as
turmas, existem os elemento s destoantes. De 35 integrantes da turma, havia
quatro que gostavam de questionar tudo, contestar, inquirir por quê estudar essa
ou aquela disciplina; por quê não estudar aquela outra, para que serviria
determinado assunto, onde seria usado. Dessa forma irritavam os professores e
também os colegas. Era necessária muita paciência para se acostumar com a
constante perturbação que esses elementos causavam. Em questão de poucos dias
os professors de pulso mais firme haviam conseguido colocá-los em seus lugares.
Já os mais frágeis nesse particular começaram a apelar para aplicação do
regulamento da escola. Avisavam uma vez, duas vezes e na Terceira convidavam o
alauno a se retirar da sala.
Em geral isso resultava
em suspensão por um dia, dois dias, com o documento sendo afixado no edital
para todos verem. Gaudêncio sentia vontade de pegar os jovens, tinham todos
menos de 20 anos, pelo gasnete e lhes aplicar umas boas palmadas no traseiro. Foi
preciso controle para não extrapolar suas atribuições ali. Não estava na
fazenda, onde os peões lhe obedeciam sem discutir. Era um igual e não poderia
se salientar. Tentou mesmo conversar com eles tentando levá-los à conscientização,
mas pouco adiantou. Por alguns dias até ficaram mais sossegados, mas depois
voltavam à velha rotina. O mês de março passou e chegou abril. Nas primeiras
semanas era a semana santa. Havia aulas só até a quarta feira.
Na quinta feira cedo,
Gaudêncio estava no aeroporto para ir à capital. Estava com saudades de sua
amada. O mesmo acontecia com ela. Pelo menos duas vezes por semana se falavam
por telefone, mas nada é igual a presença física da pessoa amada. Os pais lhe
havia desejado boa viagem, dado sua benção e o padrinho o deixara no aeródromo.
Pouco depois do meio dia estava no apartamento, sentado serenamente e almoçando
com a família de Ângela. Estava disposto a falar com ela naquela ocasião sobre
o noivado. Se ela aceitasse a levaria a uma joalheria para comprar as alianças
e um anel de noivado. Faria o pedido aos pais oficialmente na noite de Páscoa.
Os dias foram curtos
para matar a saudade e depois de irem a uma joalheria na manhã de sábado, os
dois estavam aparentemente cheios de segredos sobre o que haviam feito durante
o passeio. Ângela todavia havia contado a novidade à mãe e recebera dela total
apoio. O único que parecia estar por for a do assunto era o general. À noite
todos se dirigiram à igreja mais próxima e assistiram à celebração da
ressurreição. Terminada a cerimônia, chegaram à casa pouco antes da meia noite.
Haviam comido uma
refeição leve antes da ida à igreja. Ao retorno os aguardava uma ceia de
alimentos frios, acompanhados de uma taça de champanha. Foi nesse momento que
Gaudêncio resolveu fazer o pedido ao pai da amada. Tomado de surpresa o general
olhou de olhos arregalados por um instante. Volveu os olhos para a esposa
depois para a filha como a interrogar o que deveria fazer. Dona Lourdes falou:
- Não vai responder ao
Gaudêncio, meu bem?
- A sim! Fiquei tão
surpreso que esqueci de responder.
- Ele está esperando
pela sua resposta. Vai dar ou não sua permissão?
- Dou sim, com certeza.
É que essa é a primeira vez que pedem minha filha em noivado. Vamos celebrar a
essa oportunidade.
As taças foram enchidas
novamente, as alianças foram colocadas nos dedos da mão direita. Depois, antes
de ser erguido o brinde, o noivo retirou do bolso um outro estojo e o entregou à
noiva, dizendo:
- Quero deixar uma
lembrança inesquecível para Ângela, minha querida noiva.
Ela abriu o estojo e retirou de dentro o belíssimo
anel de diamantes, finamente trabalhado. As pedras faiscavam sob à lus das
velas que iluminavam o ambiente nesse momento. O anel foi colocado no dedo da
outra mão e exibido para todos verem. Só então ergueram o brinde, desejando
vida longa ao casal, muita felicidade e no futuro casamento.
Depois disso atacaram os alimentos que estavam postos
na mesa e aguardavam os comensais. Eram apenas os quatro. A parte social
ficaria para o almoço de domingo que passariam no clube. O general havia
reservado churrasco para a família e os demais sócios ficavam orgulhosos sempre
que podiam contar com a presença de seu comandante. Foram dormir mais tarde. Na
manhã seguinte não haveria necessidade de levantarem muito cedo. Não precisariam
se preocupar em preparar o almoço. O café poderia ser apenas um leve belisco
para não estragar o apetite no almoço.
Dormiram e levantaram já em torno das 09 h da manhã.
Dona Lourdes havia preparado um bule de café, fervido um litro de leite. For a na
esquina buscar um pão fresquinho da panificadora que ali havia. Os três
sentaram e precisaram se conter para não exagerar no desjejum. O general vestiu
sua farad de gala para esse dia. Estariam reunidos também alguns oficiais das
outras armas como aeronáutica, marinha e brigade militar. Era pois dia de
trajar roupas de acordo com a ocasião. Os outros três, dado o clima já mais
ameno nessa época, vestiram roupas sem exagero, mas condizentes com situação.
Às 11 h 30 minutos chegaram ao clube. A maioria dos
oficiais das várias unidades militares estava no recinto quando o quarteto fez
sua entrada. Foram cumprimentados com deferencia por todos e não tardou para as
amigas mais chegadas de Ângela vissem a aliança na mão direita e o anel de
noivado na esquerda. Foi cercada e cumprimentada de todos os lados. O almoço,
apesar de ser servido o tradicional churrasco gaucho, foi festivo. Os enormes
espetos eram carregados por vigorosos garçons por entre as mesas,
convenientemente distanciadas para não criar problemas de locomoção. Ainda
havia muita carne para ser consumida, mas ninguém mais tinha lugar no estômago
para tanto. Sem esquecer que ainda havia a sobremesa por ser servida.
Dessa forma, por volta de quatro horas da tarde a família
chegou de volta para o apartamento. Gaudêncio tinha marcado sua passagem para a
segunda feira na primeira hora depois do almoço. O feriado chegava ao fim e os,
agora noivos, se despediram prometendo não demorar demais em se casarem. Simplesmente
não saberiam mais viver longe um do outro por muito tempo. Gaudêncio contara
orgulhoso seu êxito na escola. A forma como mergulhara nos livros de literatura
e isso o deixara encantado. Teria muito a recuperar do tempo perdido nos anos
vindouros.
Os dois foram ao aeroporto
acompanhados da mãe dona Lourdes, para fazer companhia à filha na volta. Beijaram-se
ternamente no momento da separação e acenaram na hora de entrar na aeronave.
Levariam no coração a lembrança daquele momento. Serviria de console até o próximo
encontro.
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