Mapa de Minas Gerais. |
Rodoviária de Sete Lagoas. |
Laga no perímetro urbano em Sete Lagoas. |
O encontro de
conciliação.
Tendo recebido de coronel
Onofre o sinal verde para marcar o encontro com Jerônimo, José Silvério
telefonou para o colega Estevão, naquela tarde mesmo. Pela manhã tivera um
compromisso com uma audiência no forum e não sobrara tempo. Pediu a Roberta
para fazer a ligação. Em alguns minutos o aparelho tocou. Ao terceiro toque ele
levantou o fone:
- Fala Roberta.
- O doutor Estevão está
na linha.
- Deixa comigo agora.
A conexão foi
completada e ouviu-se do outro lado da linha a voz típica do doutor Estevão, um
pouco anasalada:
- Doutor José Silvério?
- Sim, colega. Sou eu
mesmo.
- Tem boas novas para
me dar?
- Meu cliente concordou
em conversar com o seu, mas tem que ser aqui na minha sala. Pode ser?
- Eu até preferiria um
lugar neutro, mas dadas as circunstâncias, não se pode fazer exigências. Aceito.
Pode marcar data.
- Para nós pode ser
qualquer dia, menos hoje e amanhã. Que tal semana que vem, na segunda de manhã?
- Deixe-me ver minha
agenda.
Tapou o bocal do fone e
falou para sua secretária verificar a disponibilidade do horário da próxima
segunda feira pela manhã. Ela verificou e informou não haver compromisso nesse
horário.
- Pode ser colega. Não
tenho compromisso nesse horário. Dessa maneira dá tempo de avisar
tranquilamente o meu cliente para evitar contratempos.
- Combinado, colega.
Lhes esperamos aqui na próxima segunda às 10 horas.
- Eu havia esquecido. O
seu Jerônimo pediu para sondar se é possível aliviar a queixa relative ao
atentado. Se ele for condenado e ficar preso vai ficar difícil de cumprir os
demais compromissos.
- Quanto a isso não
posso falar nada por ora. Vou ter que sondar o coronel. Ele não tem falado mais
nada a respeito, já está praticamente recuperado do tiro. Só não posso
responder por ele agora.
- Se fosse possível
retirar a queixa ou algo assim, seria mais fácil. O delegado e o juiz estão
dispostos a levar ele julgamento. Se tiver uma atenuante, pode ser que consiga
o regime de prisão domiciliar. Mesmo que tenha que se apresentar todas as
semanas ao juiz ou delegado. Assim ele poderá administrar a propriedade e sair
do atoleiro em que se meteu.
- Um atoleiro sério. Se
ele não tivesse inventado a história do atentado, acabava tudo facil, se houver
um acordo.
- Nem adianta ficar
conjuturando agora. O que está feito, está feito e pronto. O remédio é
minimizer os efeitos.
- Se o coronel
concordar, não tenho nada a opor. A questão é essa. Pelo que conheço do velho
ele é um bocado sistemático e quando embirra com uma coisa, custa a mudar de
ideia.
- Vamos ver se
conseguimos amaciar ele com um bom acordo. Talvez consigamos selar a paz entre
eles e acabar com essa pinimba. Aliás toda ela culpa do meu cliente. O coronel
não tem culpa nenhuma. O próprio Jerônimo reconheceu na minha frente.
- Haveremos de
encontrar uma saída para a questão. Depois eles precisam aprender a conviver
como bons vizinhos.
- Assim espero, colega.
Dá licença agora. Está chegando um cliente nesse momento. Outra hora nos
falamos.
- Até logo, doutor
Estevão.
Desligaram os aparelhos
aoa mesmo tempo. Coincidentemente José Silvério também estava diante de um
cliente novo, que entrava no exato momento em que a ligação era desfeita. Mal
colocou o fone no gancho e ele tocou, avisando da chegada do cliente. Mandou
entrar.
A tarde transcorreu
entre diversos clientes de causas menores vindo trazer documentos, assinar
procurações e outros detalhes necessários. Pouco depois das 5 horas, Roberta
lhe trouxe uma pilha de processos em cuja montage final estivera trabalhando.
Precisavam de uma conferência final do advogado e aposição de sua assinatura em
petições, mandados e outros documentos. Não havia nenhuma outra entrevista
marcada para aquela hora. Houve tempo suficiente para conferir
meticulosaamaente cada processo, verificando estarem na mais perfeita ordem. À
medida que os conferia, assinava onde fosse preciso. Dava graças a Deus por ter
convidado Roberta para sua secretária. Era de uma competência inigualável.
Sabia a ordem correta dos documentos para facilitar o acesso a eles pelo juiz
ao analisar cada um.
Lembrou de sugerir ao
diretor da empresa uma gratificação ou um aumento de salário para a secretária.
Fazia por merecer. O esquecimento com relação a essa questão poderia significar
a perda de uma funcionáriaa competentíssima. Depois arranjar outra do mesmo
nível, seria demorado. Sem contar com o período de adaptação ao serviço, pois,
por mais esforçada que fosse, demoraria algum tempo para ficar a par de todas
as minúcias do mundo jurídico. Isso é coisa que não se aprende de uma hora para
outra.
Na quinta-feira a
tarde, foi surpreendido pelo coronel Onofre ao telefone. Estaria ele na cidade
e ligara para saber do andamento das coisas?
- Boa tarde, coronel.
Como tem passado?
- Tive uma boa surpresa
essa semana. Os home da companhia de telefone vieram instalar o dito cujo. Tô
le ligando aqui de casa memo.
- Que beleza. Agora
fica tudo mais fácil. Parabéns.
- Tô inaugurando a
linha. Hahahahah!
- Vamos aproveitar para
combinar o encontro com seu vizinho. Marcamos para segunda feira às 10 horas.
- O home tá com pressa
de resolver as pendenga. To gostando de ver.
- Ele quer colocar a
vida em ordem, pelo jeito. Não sei se o senhor vai concordar, mas ele pediu se
daria para retirar a queixa do atentado, ou algo assim para aliviar a pena.
- E essa agora! Ele
manda dois capanga atirar em mim, quase me mata e quer que retire a queixa?
Acho que ele tem que arcar com as consequência do mal feito.
- Eu não dei resposta.
Sugiro conversar primeiro sobre o acordo da divisa e acertar tudo aí. Depois
temos tempo para tratar do resto. Concorda comigo, coronel?
- Uma boa ideia. Num
dianta esquentar a cabeça antes da hora.
- E Isabel terminou de
pintar o quadro para apresentar na exposição?
- Sei não. Hoje de
manhã tava lá no atelier mexendo com suas pintação. Tá que é uma pilha de
nervo. Deixou até a Lourdes meia dos casco vir-ado.
- É a ansiedade pela
estreia. Faltam poucos dias. É assim mesmo. Igual estudante em tempo de provas
finais ou véspera de concurso.
- Inté parece muié
buchuda em véspera de pari.
- Acho que a situação é
semelhante. O senhor deve saber melhor que eu. Nem sou casado, quanto mais tive
mulher gravida, perto de ganhar filho.
- Nem queira saber.
Elas fica um nervo só e a gente que guenta as consequência.
- É a parte que nos
cabe, já que não podemos ser mães.
- Te esconjuro, home!
Eu lá ia quere ter filho? Isso é coisa das muié.
- Dê lembranças a dona
Lourdes e Isabel, coronel. Está na hora de voltar para casa. Estou um caco hoje
de tanto ouvir histórias e depoimentos no forum.
- Vai descansar,
doutor. Lhe desejo uma boa noite de sono.
- Até segunda feira,
coronel. Não esqueça. Às 10 horas.
- Isqueço não.
A sexta-feira era em
geral pouco movimentada na área jurídica. Os juízes via de regra não marcavam
julgamentos, especialmente juris para esse dia. Se demorasse, avançariam para o
sábado e domingo. Isso ninguém queria. José Silvério aproveitou para por em dia
todos os pequenos servicinhos que tinham sido deixados para depois por conta do
era prioritário. Assim o dia passou, deixando a impressão de não ter feito
nada, mas na verdade haviam sido um número enorme de pequenos detalhes que
estavam agora devidamente encaminhados.
Cine Fox em Sete Lagoas. |
Monumento em homenagem à FEB em Sete Lagoas |
O final de semana foi
passado com a família, uma ida ao cinema sábado à noite em companhia da irmã e
do namorado. Não lhe agradava muito servir de vigia ou como se dizia “segurar
vela”. Pensava que os dois deveriam saber o que queriam da vida.
Consequentemente precisavam arcar com as consequências dos seus atos.
Orientação ambos tinham recebido dos pais, se isso não bastasse, nem mesmo um
guardião seria capaz de impedir alguma coisa se eles assim o desejassem. Mas
valeu à pena, pois a fita era muito boa. Pessoalmente gostava de filmes sobre
espionage e esse era um dos bons nessa variedade.
No domingo assistiu ao
jogo dos dois maiores clubes da capital se enfrentando pelo campeonato nacional.
Ele era cruzeirense até a raiz do cabelo. Já o pai era atleticano convicto. O
jogo foi disputado, não que estivesse valendo algum título, mas perder para o
maior rival era sempre uma humilhação. Pouco importava se o jogo era oficial ou
mesmo amistoso. O resultado final, depois de alguns lances mais rudes, alguns
cartões amarelos, foi um honroso 1x1. Ao término as indefectíveis reclamações
contra o juiz de parte a parte. A genitora do árbitro foi premiada com vários
nomes pouco honrosos. As ruas ao redor do estádio estavam cheias de policiais
para garantir a volta para casa em segurança.
Dessa forma chegou
segunda-feira, quando se encontraram frente à frente o coronel Onofre Pires e
Jerônimo para uma conversa séria e franca. O começo da reunião foi tenso e José
se encarregou de quebrar o gelo:
- Senhores, estamos
aqui para uma conversa franca, visando encontrar um termo de conciliação entre
os vizinhos coronel Onofre e Jerônimo. Sugiro que mantenhamos a calma e cada um
terá a sua hora de falar. Doutor Estevão, eu lhe dou a palavra para apresentar
ao meu cliente a proposta que me apresentou aqui na semana passada.
- Eu fui encarregado
pelo meu cliente senhor Jerônimo de apresentar ao senhor coronel, uma proposta
para quitar a indenização relativa à questão da divisa e também a reposição da
cerca no lugar de sempre.
- Pode falar, doutor. É
pra isso qui eu estou aqui.
- O senhor Jerônimo,
por conta de uns contratempos, ficou com as finanças abaladas e pede ao senhor
coronel, aceitar um parcelamento da dívida.
- E qual é essa
proposta? Quero ouvir do senhor mesmo.
- Se pudermos parcelar
o total em parcelas de valores menores, vencendo uma a cada seis meses.
Calculamos os juros devidos, num prazo final de três anos.
- Eu tinha intendido qui
seria em um ano.
- É o que eu havia
proposta, mas o senhor Jerônimo verificou que iria ficar em dificuldades.
Melhor estabelecer um prazo maior e pagar direito, que ser curto e depois não
conseguir vencer fazer os pagamentos.
- Coronel, creio que um
p:razo maior não irá atrapalhar sua vida financeira. E as palavras do colega
são sábias. Não nos vale de nada se o prazo for curto e não cumprido ao final.
Nesse momento Jerônimo
pediu ao seu advogado para deixá-lo falar e ele permitiu:
- Coronel Onofre, eu
preciso lhe pedir perdão por todas as besteiras que eu fiz em relação ao senhor
nesses anos todos. Meu pai sempre se deu bem com o senhorr e me falou muitas
vezes sobre isso. Eu era um cabeça de vento e deixei os amigos me levar para o
mau caminho. Fiz muita coisa errada nessa vida. A última foi essa da divisa e
depois o atentado. Depois que fiquei duas noites na cadeia, vi que não sou
feito para ficar em gaiola. Vi meu pai, como se estivesse vivo ali na minha
frente, falando das cosas erradas que fiz. Resolvi mudar de vida. Sei que vou
ter que acertar com a justiça a questão do atentado, mas isso é outro problema.
Quero levar outra vida a partir de agora, começando por acertar toda essa
questão da divisa de uma vez.
- Si é assim, Jerônimo,
eu até faço um batimento. Vamo deixa por 60 mil invei dos 100 qui o doutor juiz
determinou. Dividimo tudo em seis partes iguais e você me paga cada seis meis. Você
coloca a cerca no lugar certo e depois eu planto os pé de café de vorta naquela
parte. Num sei si vo podê faze alguma coisa na questão do tiro que levei.
- Isso facilita as
coisas, coronel, - falou doutor Estevão. – Fica mais fácil para o senhor
Jerônimo pagar sem problemas e só falta resolvermos depois a questão com o
juiz.
- Se o meu cliente
concordar, podemos dar um depoimento atenuando a gravidade da queixa e assim
diminuir a apena imposta pelo juiz.
- Concordo. Uai! Seu
pai e eu fomos bons amigos e depois nós viramos inimigos. Tá na hora de acaba
com essa pinimba de uma vez.
- Proponho que os dois
vizinhos se deem as meem as mãos em sinal de entendimento e vivam de hoje em
diante em paz. Aos poucos as mágoas que vão restar virarão apenas lembranças do
passado e o tempo se encarrega delas.
A sugestão foi aceita e
Jerônimo esteve prestes a verter lágrimas de satisfação. Estava realamente
arrependido do rumo que dera a sua vida. Queria poder esquecer o passado, se
isso fosse possível. Combinaram que os advogados preparariam os documentos
necessários ao acordo, encaminhariam tudo ao juiz e pediriam o arquivamento do
processo, uma vez que estava havendo o entendimento. Aguardariam a fixação da
data do julgamento dos acusados pelo atentado. Os capangas estavam da cadeia e
seria conveniente que lá ficassem pelo menos até o julgamento. Se fossem
soltos, poderiam fugir e causar problemas com o magistrado. Ele fazia questão
absoluta de manter a maior lisura nos processos sob sua responsabilidade.
Depois de realizados os
entendimentos, sairam e foram almoçare num restaurante ali perto, a convite de
coronel Onofre. Sentia um peso sendo removido de seu espírito. Nunca aceitara
que aquele menino que vira crescere, tivesse se transformado em seu mais
ferrenho inimogo, coisa que sempre evitara ao longo da vida toda. Fazia questão
de pagar a comida naquele dia. Todos aceitaram de bom grado. A reunião estava
terminando e a hora do almoço chegava. Lá fora o peão que acompanhara Jerônimo
e o outro do coronel olharam para os quatro homens saindo do escritório.
Aparentemente conversavam sem ressentimentos. Até ali não haviam trocado
palavra, mas vendo os patrões juntos e conversando, se cumprimentaram também.
Depois chegaram até o grupo aguardando um pouco afastados.
- Podem vir os dois.
Vamos almoçar todos juntos ali no fim da rua. Servem uma comida muito boa ali.
Seguiram logo atrás e o
grupo inteiro foi almoçar. O coronel tinha razão. Apesar da aparente
simplicidade do estabelecimento, os pratos eram preparados primorosamente. José
Silvério teve que congratular-se com o seu cliente por saber desse detalhe, uma
vez que ele, residente ali não sabia disso. Comeram de se fartar, beberam umas
cervejas e depois voltaram para seus afazeres. Os advogados macaram a tarde da
próxima sexta feira para se reunirem e elaborar tudo relativo ao acordo, bem
como o encaminhamento que dariam no aspecto judicial.
- Sempre ouvi os
professors falarem. Um mau acordo é melhor que uma boa demanda. Pena que o
nosso amigo se deu conta disso meio tarde. Teria evitado uma porção de
transtornos.
- Mas podemos nos dar
por satisfeitos. Eles parece que vão se entender daqui para frente.
- O coronel é ótima
pessoa. Só não pise nos calos dele, que daí a coisa fica feia.
- No fundo todos somos
assim. Varia um pouco de um para o outro, mas ninguém gosta de ser
desrespeitado, ter as propriedade invadida. Isso sempre dá encrenca grossa.
- Vamos fazer nossa
parte para que isso fique resolvido por aqui e não tenha desdobramentos depois.
- Creio que isso nos
torna um pouco amigos também, colega.
- No que me diz
respeito, nada a opor.
- Vou andando, pois
ainda tenho várias coisas para resolver durante a tarde. Até mais ver, colega.
- Boa tarde. Também vou
cuidar da vida.
José estava próximo de
seu trabalho e não tinha nenhum compromisso especial para aquela tarde. Lembrou
de falar com o diretor a respeito do aumento para a secretária e comentar sobre
a reviravolta no caso entre o coronel e seu vizinho. Alguns dias antes não
teria nem imaginado ser capaz tamanha mudança. Por vezes ainda sentia uma
pontinha de preocupação. O outro poderia estar tratando de ganhar tempo e
depois voltar a carga com mais energia. Procurou lembrar da fisionomia de Jerônimo
na hora em que falara e pedira perdão ao coronel. Não conseguiu ver traço de
falsidade no rosto. O homem estava sendo sincere, ou então era um perfeitissimo
ator, capaz de convencer a todos de sua sinceridade.
Ao ter semelhantes
pensamentos sentiu um leve arrepio. Seria uma frustração imensa se isso viesse
a acontecer. Decidiu confiar em Deus, colocar nas suas mãos a questão. Estavam tomando
todas as medidas de precaução possíveis, tudo passaria pelas mãos do juiz e
levaria sua chancel ao final. No caso da ocorrência de alguma falseta de um ou
outro lado, teria que se haver com o representante máximo da lei ali naquela época.
O aumento para Roberta
foi concedido. Ela foi chamada e na presença de José o diretor lhe informou do
valor de seu novo salário. Ela teve dificuldade em acreditar no primeiro
momento, mas foi tranquilizada quanto a ser uma brincadeira. For a José
pessoalmente que sugerira. O diretor, levando em conta a eficiência e dedicação
da servidora, concordara em elevar seus vencimentos. Ela agradeceu e saiu
sorrindo. Intimamente exultava. Assim seria possível dar à sua mãe uma ajuda
mais consistente para manter a casa. O pai estava doente e inválido, recebendo
um auxílio doença que não cobria nem os medicamentos, quanto mais outras
despesas.
Os dois conversaram
longamente, tendo José relatado seus últimos feitos no forum ao chefe. Não tinham
tempo diariamente de sentarem e narrar os detalhes de alguns processos em que
José atuara. Conseguira virar o jogo em várias situações aparentemente de
derrota. Um argumento encontrado em suas longas leituras de sentenças e
processos famosos publicados em livros ou revistas jurídicas. Isso lhe valera
bons desempenhos em diversas ocasiões. A sutileza da argumentação e sequência
de apresentação das provas no caso do coronel e seu vizinho tinha sido
considerada genial. Haviam temido em alguns momentos que poderia haver uma
derrota, mas a sentença favorável não deixara pesar dúvidas sobre o lado em que
estava a justiça.
Depois de colocar as
novidades em dia, José voltou para sua sala e se dispôs a ler minuciosamente os
autos de um processo em que iria atuar no tribunal do júri em duas semanas. Era
um caso de assassinato, mas havia falta de provas concludentes. O reu
confessara e depois se retratara afirmando ter confessado sob tortura e caberia
a ele, José Silvério atuar no apoio ao promotor, cocntratado pela família da vítima.
Procurava um argumento forte o suficiente para desmascarar o reu em sua afirmação
de tortura. O laudo do exame de corpo de delito era inconclusivo. O reu
afirmava que haviam usado métodos não contundentes, por isso não havia marcas
no seu corpo. Já os policiais, o delegado e detetives negava veementemente a ação
delituosa. A confissão for a espontânea, sem muita pressão na verdade.
Leu todo o processo,
dedicando especial atenção à primeira confissão, à retratação posterior, acusação
de tortura, laudo médico em busca de um mísero fio. Um vestígio apenas poderia
ser suficiente para levantar o pano que parecia envolver o caso. Ao reler a
confissão e depois a retratação do reu, encontrou o que procurava. Havia incongruência
entre as duas situações e ele usaria esse fato para provocar o réu. Era
fortemente provável que, ao ser confrontado com a contradição, ele ficaria
agitado e se delataria sem muita dificuldade. Haviam passado ao seu encargo
esse caso, pois todos os outros haviam concluido ser trabalho insano e infrutífero
tentar conseguir a condenação. A acusação de tortura pendente sobre a cabeça do
delegado, um detective e dois agentes, significaria um golpe severo para esses
profissionais. Depois que se certificou de tudo, escreveu cuidadosamente a
forma como faria as perguntas, possíveis variações dependendo das respostas que
recebesse. Tudo pronto, tornou para a sala do diretor e lhe mostrou o que
estivera fazendo.
O chefe leu, releu e
indagou de onde tirara essa ideia?
- Do próprio processo. –
e abriu onde estavam as duas passagens conflitantes das declarações do reu,
feitas em momentos diferentes. Ele tinha previsto eventuais esquivas e saidas
pela tangent. Encurralaria o malfeitor de tal forma que não lhe restaria alternative
a não ser confessar. Depois de olhar tudo, o chefe lhe deu razão. Aconselhou-o
a não deixar escapar uma única sílaba de tudo isso. Poderia por tudo a perder,
se alguém, especialmente os advogados de defesa, ficassem sabendo de sua
artimanha. Era perfeitamente correta a sua intenção. Colocaria a pergunta de
tal forma que o acusado seria obrigado a dizer uma coisa ou outra. Cada uma
delas o conduzia a um beco sem saída. Quando se desse conta da cilada, seria
tarde.
Ao olharem viram que
passava de 18h 30min. Haviam estado a conversar por tanto tempo que esqueceram
a hora. Levantaram-se e verificaram que não havia mais ninguém no prédio. Fecharam
as salas e depois a porta principal. Despediram-se e foram para suas casas. O diretor
ia pensando em seu íntimo:
- Foi uma ótima decisão
contratar esse jovem, recém saido da faculdade. Transformou-se, em menos de
dois anos, no melhor causídico da Advogados Associados. Estava se tornando hábito
transferir para sua agenda todos os casos mais complexos, se não de todo, pelo
menos o comando da equipe que atuaria na defesa ou acusação, conforme o caso. Se
não o tivesse contratad na época, oferecendo um pouco mais do que teria sido
normal, hoje estaria arrependido, vendo-o atuando em julgamentos no lado oposto
ao seu. Seria algo profundamente lamentável.
Vista aérea de Sete Lagoas. |
Schoping Center Sete Lagoas. |
Mais um lago no perímetro urbano. |
A obra está chegando ao final. Com mais dois ou três capítulos atingirá o ponto de conclusão.
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