quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Um pouco da história de minha vida - em Brasnorte - MT (3)



A vida na roça.

Alguns anos depois daquelas imagens postadas no artigo anterior, a vista era essa.
Galinheiro e galpão, feitos depois.
O garnizé chamado KIKO.
Alguns anos depois, a situação vista nas fotos anteriores, o aspecto do local de nossa moradia havia mudado sensivelmente. Não estava tudo pintado e brilhando, mas no lugar da quantidade imensa de troncos e galhos escuros de carvão, havia muito verde por todos os lados. 

Nessa imagem ao lado, o alo Kiko, presente de um amigo(presente de grego), procurando lugar para se aboletar  e dormir ou ficar sossegado. Ele era acostumado a dormir na cabeceira da cama do antigo dono. Por isso falei que foi um presente de grego. Demorou um pouco para se acostumar a dormir com as outras galinhas. Deixou uma grande descendência.
Vaca Laranjinha e sua filha, separadas pela cerca.

Como o professor de mais alta classificação da escola, dentro da carreira do magistério do estado do Mato Grosso, comecei tendo um vencimento mensal equivalente a perto de 15 salários mínimos. Com a introdução do famigerado mínimo de referência não tardou mais de dois anos para esse mesmo salário estar reduzido a pouco mais de cinco salários mínimos. Com a troca de governo em 1990, começaram a ocorrer ainda atrasos no pagamento e chegou ao ponto de ficar reduzido à pouco mais de dois salários mínimos. 

Ao final de 1987 eu concorri ao cargo de Diretor da escola e fui eleito para o biênio 1988/89, voltando depois à sala de aulas. Já no ano de 1989 os professores entraram em greve por reivindicações salariais, sendo que o período letivo terminou em princípios de 1990. Assumiu no meu lugar o cargo de diretor a professora Leonor Gomes da Silva. Já estava funcionando a prefeitura e começava aos poucos a implantar a estrutura administrativa própria. Tudo estava por fazer, por construir. Veículos por adquirir, máquinas rodoviárias, ambulância, hospital, faltava de tudo. 

Em meio a essa crise de salário, não havia como investir na chácara. A muito custo conseguira adquirir uma vaca que nos supria o leite necessário para alimentação. Tinha o nome de Pintada. Era mocha, branca e vermelha, de raça holandesa. Por sorte uma excelente produtora de leite. Dava o suficiente para nosso consumo, vender alguns litros e ainda fazer um queijo vez ou outra. Até mesmo um doce de leite. Quando o salário na escola atingiu seu nível mais crítico, meus pais me deram uma ajuda e consegui comprar duas novas vacas. Uma era a Laranjinha da foto acima e a outra a Malhada, na foto abaixo. 

Décio Junior, Augusto Mathias e Anselmo Daniel, junto à Pintada. 
Além de produzir muito leite, Pintada era extremamente mansa. Uma aquisição de ocasião, pois ela estava maltratada, magra, cheia de carrapatos e verminose. Em pouco tempo se recuperou, voltando a sua plena forma. Com a aquisição das duas vacas com auxílio financeiro dos meus pais, a produção de leite aumentou melhorando a nossa renda com a venda in natura e na forma de queijo, ou doce de leite. 

Estábulo das vacas.
 Também foi feito uma cerca de tela para uma horta. Raspamos os menores vestígios de estrume das vacas, do galinheiro e do pequeno chiqueiro para adubação. Isso ajudou a, no período da seca, produzir uma razoável quantidade de hortaliças. Era alface, rúcula, feijão vagem, rabanetes, tomates e outras variedades. Tudo isso era levado para a vila e vendido, não sobrando nada. É preciso dizer que, nessa época, a maior parte das hortaliças consumidas no lugar era levada dos estados do sul como São Paulo, Paraná e outros. É fácil imaginar o custo que isso acrescia a esse importante ítem na alimentação da população. Com isso, tudo que fosse possível produzir nessa área, tinha mercado garantido. Se houvesse apoio adequado, as chácaras existentes no entorno da área urbana, teriam possibilidade de abastecer esse mercado com folga. Infelizmente ele não existia naquela época. 
Pintada pastando tranquilamente.

Malhada e o tourinho para reprodução.

Bezerra no seu piquete e novilha ao lado.
Nosso pasto foi ampliado, fizemos um piquete separado para os bezerros maiores e outro pequeno para aqueles em idade de amamentação. Tudo isso reunido, em pouco tempo, conseguiu melhorar nossa renda, triplicando o valor anterior. Algumas mudas de frutíferas plantadas em janeiro de 1988, cresceram rapidamente e começaram a produzir, fornecendo-nos laranjas, mexiricas, cajus, mangas, frutas de conde, carambolas, bananas e abacaxis em grande quantidade. No lugar onde nos foi dito ao chegarmos não adiantava plantar que nada dava, estávamos conseguindo algo mais. Evidentemente era necessário muito trabalho, cuidado, adubação com tudo que fosse matéria orgânica. Nada era queimado. Lamentávamos a necessidade de queimar o mato para abrir a roça, pois se fosse possível fazer isso de outra maneira, certamente a teríamos feito. As folhas das árvores seriam uma excelente fonte de adubo orgânico. 

Dois pés de manga rosa produzindo frutas.

Nessa imagem acima temos dois pés de manga rosa, plantados nos primeiros meses de 1988, em pouco mais de dois anos, começaram a produzir frutas. Nas imagens abaixo, um casal de cães, filhos da cadela Princesa, brincando no pasto dos bezerros. Eles vieram junto para Curitiba na nossa mudança para cá em 1993.

Palito e Nega brincando.
Em 1987 eu havia adquirido uma motosserra usada. Por inexperiência cometi o erro de optar por um modelo muito grande e pesado para o serviço na roça. O revendedor Stihl local, me ofereceu uma menor, também usada, mas totalmente reformada. A minha estava necessitando de reforma e assim ficou elas por elas. De brinde ganhei uma cadelinha vira latas, filhote. Ela ganhou o nome de Princesa. O que lhe faltava em qualificativos raciais, tinha em obediência e demais qualidades importantes. Dela nasceu uma ninhada de filhotes, dos quais guardamos os dois das fotografias ao lado.Em maio de 1993 chegaram, quase adultos, a Curitiba quando voltamos.  
Continua a brincadeira. 

Pouco tempo antes de virmos embora de lá. 

Vaca pintada se abrigando do calor forte à sobmra de um arbusto.

No dia 23 de dezembro de 1992, terminando de colocar as telhas de uma cobertura para o novo forno recentemente feito, uma telha quebrou e eu caí. O resultado da queda foi uma luxação completa do cotovelo esquerdo e uma forte pancada na coxa esquerda. A falta de um aparelho de raio X e médico especializado, foi preciso me deslocar para Cuiabá(570 km). O acidente ocorreu próximodas 5 horas da tarde e foi conseguido um veículo para o transporte já noite fechada. A ambulância estava quebrada devido ao péssimo estado das estradas. Colocaram à disposição um carro Del Rey, dirigido pelo motorista da ambulância. Viajamos a noite inteira até Tangará da Serra, onde havia um ortopedista. Infelizmente ao chegar lá, soubemos que ele viajara de férias no dia anterior. Almoçamos e seguimos para Cuiabá, onde, depois de muita procura, encontramos uma clínica com um médico de plantão. Foi aplicada uma anestesia e o braço puxado, colocando a junta no lugar. Feita uma tala de gesso para manter a imobilização, iniciamos a viagem de retorno. Pernoitamos em Tangará da Serra, concluindo a viagem no dia de Natal. 

Iniciei o sofrido período de manter o braço enfaixado e imobilizado. O forte calor provocava forte sudorese, provocando a formação de ulcerações na pele da parte interna do cotovelo. Era preciso higienizar com água oxigenada e aplicar líquido antisséptico, na época o temido merthilate, ainda em plena utilização. Ao completar três semanas de imobilização era preciso voltar a Cuiabá para retirar a tala e verificar se estava tudo em ordem. Se soubesse o que seria feito, teria pedido para a Ir. Teonila retirar a tala e desenfaixar. Foi apenas isso que foi feito. Poderia perfeitamente ter economizado o custo da viagem. 

Ao retornar, eu estava com o braço semi travado. Endireitar nem pensar. Levaria meses para lentamente recuperar a mobilidade, mas permaneceu anos uma leve curvatura do cotovelo devida à calcificação da lesão ocorrida. No dia 23 de janeiro, meu filho Augusto Mathias, um dos gêmeos, com 12 anos de idade, foi vítima de um AVC. Ocorreu paralisia no lado direito. Quem fez o diagnóstico prévio e o tratou adequadamente, dentro das limitações hospitalares e pessoais existentes, foi um ex integrante do exército da Wermacht alemã, na Segunda Guerra Mundial. Foi cirurgião e um ferimento por estilhaço de granada, tirou-lhe a precisão da mão direita, exatamente a que usava nos procedimentos cirúrgicos. Na quinta tentativa, conseguiu fugir ao domínio de Hitler e acabou vindo para o Brasil. Não conseguiu revalidar seu diploma de médico e por isso exercia o trabalho de bioquímico. Era sua formação complementar e, mesmo sem muitos equipamentos, realizava todos os exames clínicos básicos necessários. Na ausência de outro médico(o último se demitira e fora embora), ele fez uma punção lombar e constatou que havia ocorrido uma pequena hemorragia cerebral. Casualmente tinha disponível a medicação necessária e pediu à proprietária da farmácia, Srª Terezinha Bonazza para encomendar outras doses para serem enviadas pelo ônibus. Isso foi facilitado pela existência, nessa época, de uma central telefônica. 

No domingo pela manhã, às 10h, foi possível a um avião monomotor aterrissar na pista existente ao lado do perímetro urbano. Embarcamos o menino e voamos para Cuiabá, onde foi internado no Hospital Geral. A internação correu por conta da Previdência do Estado, por eu ser professor concursado da escola. Foi examinado por um neuro-cirurgião, um cardiologista e nem sei mais que outros médicos. Exames de sangue, raios X, tomografia craniana, ecografia cardíaca, foram pedidos e feitos. O cardiologista não encontrou nenhum problema e o neuro foi incompetente para interpretar corretamente a tomografia. Na próxima sexta-feira, após 5 dias internado, recebeu alta e fomos para a casa de um casal, amigos de nossos parentes aqui de Curitiba, que veio nos visitar e dar apoio. Deveríamos voltar em 60 dias para uma revisão. O único medicamento receitado foi o melhoral infantil, usado para manter maior fluidez do sangue. Exatamente o oposto do recomendado. Se houvesse novo rompimento de vaso sanguíneo no cérebro, ele teria convulsões e poderia morrer, sem termos tempo de prestar socorro. 

Não confiando no diagnóstico, fui até o escritório da Madeireira Morada do Sol, empresa sediada em Brasnorte e consegui o dinheiro necessário para adquirir as passagens dele e de minha esposa Rita para Curitiba. Embarcaram na madrugada de domingo para segunda-feira e chegaram aqui próximo do meio dia. Imediatamente foi conseguida consulta com o neurologista pediátrico Dr. Antoniuk. Ao olhar a tomografia prescreveu imediatamente um antivconvulsivante para prevenir qualquer evento sério desse tipo. Ele se tratou, conservou algumas pequenas sequelas, mas recuperou os movimentos básicos, a fala e vive normalmente. Hoje conta com 34 anos, completados em 13 de setembro passado. 

Visita do cunhado Edegar Baldin e Sonia, com os filhos Edegar Junior e Isabel, ao final de 1991.
Caixa d'áuga, abastecida por encanamento vindo da vila, fornecido por poço artesiano. 
Outra vista da caixa d'água.

Vista de dentro da varanda, de um campinho de futebol e voleibol, onde os menios e eu também, brincávamos.

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